terça-feira, 12 de março de 2013

"COLEGAS" É FÁBULA SOBRE O PODER DE ACREDITAR EM SONHOS



por Carol Nogueira

      Três jovens com síndrome de Down decidem fugir da instituição em que moram para viver os seus grandes sonhos. É este o mote do filme Colegas, que venceu o Festival de Gramado no ano passado, quando bateu o badalado O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, e estreia nesta sexta-feira em circuito comercial. Dirigido por Marcelo Galvão, o longa veio da vontade do diretor de inspirar outras pessoas a acreditarem em seus sonhos, assim como um tio seu, que também tinha síndrome de Down, o inspirou.
      "Eu cresci com esse meu tio e ele era muito engraçado. Tinha um coração gigantesco, uma energia muito boa", diz Galvão. Segundo ele, a ideia era fazer um filme que mostrasse a síndrome de Down de forma leve. "Da forma como eu me sentia quando estava do lado dele", conta o diretor. O tio, chamado Marcio, deu nome a um dos três personagens do filme, interpretado por Breno Viola. Os outros dois são Stalone e Aninha, interpretados por Ariel Goldenberg e Rita Pokk, que são casados na vida real há 10 anos.
      Na história, após roubarem o carro do jardineiro da instituição (Lima Duarte, que é também o narrador do longa), os três fogem para realizar cada um o seu desejo. O de Stalone é ver o mar, o de Aninha, se casar, e o de Marcio, voar. Para arranjar dinheiro e comer, eles assaltam lojas de conveniência que encontram pelo caminho usando armas de brinquedo e fantasias – o que faz com que comecem a ser considerados criminosos perigosos pela imprensa.
      Na hora do assalto, cada um deles fala uma frase conhecida de roubos do cinema – o filme é cheio de citações e referências a outros filmes, a começar pela abertura, um apanhado de cenas conhecidas do cinema. A fuga do trio, por exemplo, é inspirada no filme Thelma & Louise (1991), de Ridley Scott, no qual duas mulheres saem sem destino pelas estradas dos Estados Unidos.
      O cinema, paixão do trio no filme, é também a paixão de Goldenberg na vida real. Paixão que, aliás, se tornou nacionalmente conhecida quando ele virou protagonista de uma campanha no YouTube para trazer para a estreia do filme no Brasil o seu ídolo, o ator americano Sean Penn, de quem virou fã após assistir ao filme Uma Lição de Amor, sobre um deficiente mental que luta pela guarda da filha. O vídeo já contabiliza 1,3 milhão de acessos no YouTube, e o recado chegou até Sean Penn. Apesar de o ator não ter mandado nenhuma resposta oficial, Galvão ainda espera conseguir levar Goldenberg até os Estados Unidos para conhecer o ídolo.
      Longo processo – Desde que o diretor decidiu fazer o filme até o seu lançamento, lá se vão mais de sete anos. Galvão conta que a parte mais difícil foi conseguir captar recursos – rodado inteiramente na estrada e em dois países (Brasil e Argentina), o longa tem orçamento estimado em 6 milhões de reais. "Muita gente me disse que eu estava louco de fazer um filme com três jovens com síndrome de Down como protagonistas. Falavam que ninguém ia querer assistir", afirma o diretor. Quando foi chamado para participar do projeto, Goldenberg ficou tão animado que conseguiu arrecadar, com colegas de trabalho, cerca de 300 mil reais para o projeto. "Ele me ligava todos os dias para saber se o filme ia acontecer", conta Galvão.
      Mas encontrar os intérpretes certos não foi fácil. Galvão diz ter testado mais de 300 atores até chegar aos protagonistas. "Eles se saíram melhor do que os atores que não eram 'Down', diz o diretor. "O mais difícil foi conseguir a atenção deles. O Ariel é bom em decorar, mas se distrai muito facilmente, tem problemas de dicção. Já a Rita tem problemas em decorar as falas, mas é boa nas cenas de emoção. Cada um deles tem qualidades", diz Galvão.
      Agora, o diretor quer que o filme incentive as pessoas a ver a síndrome de Down de outra maneira. "Essa seria a nossa maior vitória", diz.


FONTE: REVISTA VEJA

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