quinta-feira, 7 de março de 2013

AS SESSÕES - SEXO E DEFICIÊNCIA

     

     Cada pessoa tem um ritmo. Em determinadas etapas da nossa vida, alguns questionamentos ficam mais latentes do que outros. E o sexo faz parte disso. De forma muito leve, o filme As Sessões (The Sessions) trata deste universo. Baseado em uma história real – mais precisamente em um artigo que o jornalista Mark O´Brien escreveu sobre como foi o processo dele de descoberta sexual, aos 38 anos de idade e completamente paralítico.

      O filme se passa na década de 1980. Mesmo sendo deficiente físico, Mark conclui a faculdade de jornalismo usando uma cama mecânica que o levava para onde ele queria. Morando sozinho e, de certa forma independente, ele precisa contratar um acompanhante para ajuda-lo nas tarefas mais simples como tomar banho, se barbear e se alimentar.

      Interpretado fantasticamente pelo ator John Hawkes, o espectador consegue entrar no universo de Mark O´Brien e acompanhar de perto as suas limitações e anseios, de forma bem humorada e otimista. Ao ser contratado por uma revista para escrever um artigo sobre como é o sexo para os deficientes físicos, Mark resolve “perder a sua virgindade” em meio aos próprios questionamentos pessoais que ele já nutria.
      Para isso, ele conta com os conselhos de um padre nada convencional vivido pelo ator William H. Macy e a ajuda da terapeuta sexual Cheryl Cohen-Greene, interpretada brilhantemente por Helen Hunt - que lhe valeu uma indicação ao #Oscar2013, de melhor atriz coadjuvante. "Filmamos em ordem cronológica, então o espectador acompanha em tempo real nossas próprias surpresas e emoções. Não precisamos fingir ser um par perfeito. (...) Foi incrível ter a chance de encarnar esta mulher, particularmente uma que não está nos seus 20 anos, e celebrar que todos nós temos corpos e todos nós temos o direito divino de sentir prazer", disse a atriz em matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo.

 
      “O amor é uma viagem”. Está é uma frase dita no filme que faz muito sentido e explica, de modo bem franco, o que é este sentimento e para onde ele levará o protagonista. Em As Sessões, o espectador é convidado desde o início a “viajar” junto com Mark O´Brien pelas suas experiências, suas descobertas, prazeres e limitações.

      Como poucos filmes conseguiram, o filme mostra que o sexo é um processo importante de descoberta pessoal e que cada um tem o seu tempo para se descobrir e descobrir o outro. Em muitos momentos, chega a ser poético como Mark se apaixona pela vida, mesmo diante das suas limitações motoras, pelo fato de ter contraído pólio quando criança e ter passado o resto da vida preso a um respirador artificial.


      Chega a ser uma injustiça o fato do ator John Hawkes não ter sido indicado para o #Oscar2013, uma vez que a sua atuação já está na história do cinema como uma das mais brilhantes. Não é um trabalho nada fácil tendo que criar uma atuação baseada somente nas expressões de rosto e o corpo paralisado. Houve ali todo um trabalho de expressão corporal e de voz que deram a vida a um personagem da vida real que tem muito a ajudar a outros portadores de necessidades especiais a descobrirem os prazeres de uma vida sexual sem culpa.
      Helen Hunt é outra que rouba a cena para si em muitos momentos por construir uma personagem ousada e, ao mesmo, contemporânea que utiliza um método terapêutico bastante polêmico, diga-se de passagem, o "sex surrogate" (ou parceira sexual substituta). Aos 49 anos, Hunt se mostra a vontade em desfilar pelo filme completamente nua e em boa forma. Entre a atriz e John Hawkes não há constrangimentos e as cenas saem com naturalidade e carisma.
      Quanto ao roteiro do filme que se mostra ágil e divertido logo nas primeiras cenas, tem no seu ato final um desfecho abrupto e corrido, como se o diretor Ben Lewin – que também é deficiente físico, tivesse pressa de mostrar que Mark, após as seis sessões com a terapeuta sexual, teve uma vida normal e que viveu por mais 10 anos feliz e sexualmente ativo.

      Faltou um desfecho melhor e mais sensível à história de Mark. Tudo foi tão rápido que nem deu tempo do espectador entender a passagem de anos e a conclusão do filme. Talvez, seja aí o maior pecado da obra e o motivo dela não ter sido indicada ao #Oscar2013 de melhor roteiro adaptado, pois a história merece.
Fonte: Folha de São Paulo

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