segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

AO FICAR TETRAPLÉGICO, ELE ACHOU PAZ NA FISIOTERAPEUTA QUE AGORA VIROU SUA ESPOSA

 
 
    Depois do sim, ela saiu empurrando cadeira e ele, segurando o buquê. O corredor da igreja se iluminou com o sorriso dos dois. Frederico encontrou na fisioterapeuta primeiro uma amiga e depois uma esposa.
 
    Tetraplégico desde 2008, após fraturar a quinta vértebra num acidente de moto quando foi atingido por um veículo que invadiu a preferencial, o veterinário passou por temporadas de reabilitação. Em 2010, em meio a uma depressão e a vontade de não fazer mais nada, uma amiga trouxe uma profissional para atende-lo em casa. Hoje a fisioterapeuta é madrinha do casamento dele. À época, para substitui-lá quando fosse necessário, ela apresentou a amiga, Maria Alice.
 
    “De vez em quando ela ia em casa, passear, bater papo quando tinha uma janela ou outra. Todo mundo acha que começou ali, mas não, primeiro foi uma amizade mesmo”, explica Frederico Machado Rios, de 34 anos.
 
 
 
    No mesmo ano, por incentivo de outra amiga, ele resolveu criar o blog “Acessibilidade na Prática”, como colaboradores, passou a chamar os amigos, entre eles a fisioterapeuta Maria Alice. “Aí que a gente se aproximou mais ainda, saímos para tirar fotos dos lugares, até que a Naila, a fisioterapeuta teve que assumir mais um período na coordenação do curso da universidade e perguntou se a Maria podia me assumir como paciente”, conta Frederico.
 
    Como fisioterapeuta, Maria Alice ajudou na reabilitação e a pesquisar o que saía de novo no mercado. Quando os dois começaram a “flertar”, foi que ele passou a ter vergonha. “Eu falava: o que as pessoas vão pensar? Uma mulher bonita dessa com um cara todo estrupiado?”
 
 

    A relação foi avançando e ele resolveu então entrar num acordo, para que ela deixasse de ser fisioterapeuta e virasse namorada. Depois de terminarem algumas vezes, como todo casal, eles voltaram em fevereiro deste ano e a ideia de casamento, prevista para daqui dois anos, foi amadurecida e concretizada agora, no fim de 2015.
 
    Mas foi tempo até Frederico tirar da cabeça a pergunta: “o que uma pessoa vai querer com um cara como eu, nessa situação?”, se questionava. E foi Maria Alice quem provou que o amor não só era possível como existia entre eles. “Ela me ajudou muito nesse pensamento que eu tinha. É um processo, a gente tem uma vida, esta tocando num ritmo e de repente você se vê numa situação totalmente fora de controle”, descreve.
 
    O conhecimento técnico dela, aliado ao carinho e afeto ajudaram ele a desmistificar muitos conceitos formados em cima da deficiência. O próprio blog contribuiu ao contar a história de outras pessoas. “Ela foi fundamental no início como profissional e depois juntou tudo”, diz Frederico.
 
 
 
    Ela, Maria Alice, fala com a equipe com a mesma calma e atenção com que fala com os pacientes. A transição de paciente para algo mais passou pelo caminho da amizade. “Não sei falar o momento que isso aconteceu, mas começamos pela amizade, companheirismo e foi lindo”, descreve Maria Alice Furrer Rios, de 30 anos.
 
    Frederico completa dizendo que juntos eles compartilhavam problemas, questões de família e da convivência “acabou que deu faísca”.
 
 
 
    Se o casamento foi uma superação? Frederico fala que não deixa de ser, se comparado com o início, pela depressão e todo negativismo que ele vivia. “Na cabeça eu achava que não podia fazer nada, ainda mais me casar, então se pensar por aí, sim”.
 
    Nos últimos dois anos, o casal conta que passou a ver a história deles, como de todos os outros. “Eu não consigo abrir a porta do carro pra ela, ela que abre pra mim, mas tudo bem, não tem diferença”, brinca ele.
 
    “Foi um casamento cheio de amor, a gente não encarou dessa forma como superação, porque já estava tudo encaminhado para ser assim, um amor que transborda”, diz ela. “Todas as pessoas tem que se superar todos os dias. Seja no trabalho, na vida”, completa ele.
 
    A tetraplegia de Frederico não tirou todos os movimentos dos braços, ele mantém poucos, assim como sente uma pequena sensibilidade nas pernas. A lesão do acidente deixou 20% da medula íntegra.
 
    A entrada dele na igreja foi conduzida pela mãe e a saída, pela noiva. O paletó “pegaria” na hora em que ele mesmo fosse se movimentar. Um dia antes é que os noivos se lembraram do buquê. E ele, sem pensar duas vezes, disse que levaria.
 
    O casamento teve valsa. Maria Alice admite que não sabe dançar e se deixou conduzir por ele, Frederico.
 
 
 (Foto: Eurides Aoki)

Nenhum comentário:

Postar um comentário