quinta-feira, 17 de março de 2016

'LEVAR PARA A RUA FAZ MAIS BEM DO QUE ALONGAMENTO EM CLÍNICA' DIZ FISIOTERAPEUTA SOBRE INCLUSÃO




    "Eles querem é viver. Querem participar da cidade.” A reflexão é do fisioterapeuta Felipe Ribeiro, que coordena o projeto Belo Horizonte – Patrimônio e acessibilidade. Nesse sábado, a iniciativa levou 57 pessoas com deficiência física, sensorial ou intelectual para um tour mediado pelo conjunto arquitetônico da Pampulha. Divididos em grupos, os participantes visitaram o Museu de Arte, a Casa do Baile e a Casa Kubitschek.

    Desenvolvido com apoio da Fundação Municipal de Cultura, o projeto teve início em 21 de fevereiro, com uma visita ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade. A iniciativa oferece transporte, ingressos e lanches. O encerramento foi no dia 12, com uma oficina de ritmos populares e apresentação da Bateria Imperatriz Mineira, no Núcleo de Estudos da Cultura Popular (Necup). Os locais foram escolhidos por abrigarem acervos mais significativos sobre o patrimônio de Minas Gerais.

    Formado em fisioterapia em 2008, o coordenador Felipe descobriu, na prática, que fazer reabilitação física dentro de clínica e seguir o lema “se adapte para ser aceito na sociedade” não era o ideal. “Eu vi que simplesmente levar para a rua fazia muito mais bem do que fazer alongamento em uma clínica”, conta. Assim surgiu a ideia do projeto, que já foi realizado com sucesso em Salvador (BA).

    Responsável pela produção da iniciativa, a museóloga Viviane Santos explica que a acessibilidade cultural contempla dois aspectos: a arquitetura e o atitudinal. “Não basta ter rampa e banheiro adaptado. É preciso saber receber. As rampas normalmente ficam no fundo ou na lateral do prédio. Você quer entrar é pela porta da frente”, observa. Para ela, o patrimônio deve estar a serviço das pessoas.

    O tour é acessível em Libras e conta com profissionais treinados em audiodescrição, fora uma equipe multidisciplinar, com psicólogo, fisioterapeuta e pessoas formadas em turismo e belas- artes. “A ideia é que cada um, a partir do seu saber próprio, possa contribuir para que esse evento aconteça”, descreve Viviane.

    Inclusão Os baianos Adriano e Pedro Henrique Cruz, ambos com deficiência intelectual leve, vieram a Minas só para participar da versão mineira do projeto. Adriano estava curioso em conhecer a Casa Kubitschek, que foi residência do ex-presidente Juscelino. “Achei o projeto ótimo. Sinto falta da inclusão social. Quando estou com o Felipe é como se ele fosse o meu tutor”, conta. Já Pedro relata que visitou espaços culturais em Portugal, Espanha e Chile, mas que não viu nenhuma iniciativa como essa. “Tem a questão do tato também. Tem gente que não pode ver, é só na audição. Deveria ter esse acompanhamento sempre em todos os museus”, diz.

    O casal Vagner Figueiredo e Laís Drumond, ambos surdos, aprovou a tradução simultânea para Libras em todas as atividades. “Quando vou a um lugar e não tem intérprete de Libras, vou embora. Eu quero que tenha acessibilidade”, diz Laís. É a filha Ludmila, ouvinte, que do “alto” dos seus 5 anos dá uma mãozinha aos pais quando consegue.

    A família foi convidada para compartilhar o momento de lazer. Rosa Maria de Lima levou a filha Karine Gleice, deficiente intelectual de 32 anos, para conhecer a Pampulha. “Muitas atividades da Apae foram cortadas pelo governo. E nas regionais Norte e Nordeste não vejo nada. Podia ter mais cultura”, reclama Rosa.

    Adriane Cristina da Cruz, presidente da Associação Mães que Informam (AMI), levou João Pedro, cadeirante com deficiência intelectual, para curtir o passeio. “É limitação, não impossibilidade. O que tem para pessoa com deficiência em BH? Quem divulga? Onde que está? Não existe política pública”, reclama.
 
 

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