segunda-feira, 1 de setembro de 2014

BASTIDORES DO "ERA UMA VEZ UM CONTO DE FADAS INCLUSIVO" - CÓCEGAS NA FLORESTA





Em 2011 fiz um curso de Libras (Língua brasileira de Sinais) aqui em Porto Alegre.  Havia decidido que um dos livros da minha coleção seria sobre surdez, e para isso, precisava conhecer um pouco mais sobre o assunto. Nunca trabalhei com pessoas surdas. Surdos, para mim, eram pessoas que passavam na rua com suas próteses auditivas ou gesticulando com as mãos e fazendo caretas.

O curso foi bem legal e me deu uma breve noção do universo dos surdos. A primeira coisa que aprendi no curso de Libras é que não existe surdo-mudo, mas sim, surdo. Mudo é quem não fala por alguma limitação do seu aparelho fono-articulatório, e não quem não ouve.  E, também aprendi que Libras não é uma linguagem, mas sim, uma língua. 

O conto de fadas escolhido para tratar de surdez  foi João e Maria, que na versão inclusiva ganhou o nome de “Cócegas na Floresta”.  A história montada na minha cabeça era muito simples: João e Maria, dois gêmeos surdos,  se perdem na floresta e vão parar na casa de doces de uma bruxa.  Até aí, nada de diferente do conto original. A bruxa prende João numa jaula  e faz com que Maria trabalhe para ela. Os dois irmãos, que se comunicam unicamente por gestos, tentam armar uma fuga e para isso, se valem do fato da bruxa não conhecer os sinais que eles utilizam.

 “Cócegas na Floresta” traz dois diferenciais dos outros 10 livros: primeiro, que  os protagonistas são negros. Confusões a parte, dia desses, um amigo meu que não havia identificado qual a deficiência que João e Maria tinham na capa do livro, acabou comentando indignado:

- Ô, meu! Ser negro não é deficiência!


Tive que rir da confusão que ele fez, mas compreendi. Afinal, de todas as deficiências, a surdez talvez seja a menos visível e detectável.

Já o segundo diferencial de “Cócegas na Floresta” é que a bruxa também possui uma deficiência.  A feiticeira não enxerga um palmo diante do seu nariz sem os seus óculos, fato que possibilita a fuga dos dois irmãos.

O título do livro só se justifica no final da história, quando João e Maria finalmente escapam das garras da bruxa, mas óbvio que não vou contar aqui como ela termina!

por Cristiano Refosco

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