segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A HISTÓRIA DA SOCIEDADE INCLUSIVA NA EUROPA - PARTE 3



Por Adolf D. Ratzka (Diretor do Instituto de Vida Independente, Estocolmo, Suécia, 1999)

    Surge freqüentemente o argumento de que nossas sociedades não podem investir em mudanças de longo alcance, necessárias para que todas as minorias sejam totalmente incluídas. Temos o desafio de apresentar estudos provando que tais investimentos são lucrativos para a sociedade. Existem estudos demonstrando que muitos investimentos na área de inclusão de pessoas deficientes levam a economias futuras para a sociedade, que ultrapassam em muito seus custos. Entretanto, devemos ser cuidadosos. Exigimos serviços de saúde adequados, moradia na comunidade em vez de em instituições, oportunidades educacionais e emprego. Esses são direitos humanos básicos. Direitos humanos não devem ser discutidos em termos de custos ou de lucros.
 
    Além disso, há outros ganhos que não os meramente econômicos. Quando uma distribuição de renda muito desigual cria inveja e ódio, quando a avenida do progresso individual na sociedade está fechada para a maioria devido ao sexo, cor da pele ou defi ciência, quando muitos vêem o crime como a única saída para ter condições de vida decentes, quando nem arame farpado, nem segurança, nem recursos eletrônicos são suficientes para fazer com que os ricos se sintam protegidos, quando até os pobres temem que alguém mais pobre e mais desesperado possa tomar o pouco que possuem – numa sociedade assim, qualquer investimento em mais igualdade será benéfico para todos. Da mesma forma, viver numa sociedade em que deficiente algum tenha de pedir esmolas na rua, em que deficientes não sejam confinados em instituições e possam viver com a família ou sozinhos, ou constituir sua própria família, em que deficientes possam educar-se e trabalhar da mesma forma que seus irmãos e irmãs, amigos e vizinhos nãodeficientes, viver sabendo que uma deficiência não é uma catástrofe para o indivíduo e sua família, isso eleva a qualidade de vida para todos.
 
    Além das provisões gerais para o bem-estar que acabo de enumerar, as exigências para uma sociedade que inclui pessoas com deficiências referem-se a um planejamento global de tudo aquilo que se relaciona com transporte, construções, ferramentas e instru mentos, informações, comunicações, mídia e cultura. Devem ser abolidas leis e regulamentações que distinguem indivíduos com deficiências e os excluem de direitos civis como casamento, filhos, voto, trabalhar como jurados, gerir negócios etc.
Mas, mesmo após todas essas mudanças, ainda haverá pessoas que, para exercer todas as funções, precisam de serviços de assistência pessoal, como eu, ou de leitores, no caso de serem cegas, ou, ainda, de intérpretes de sinais, se tiverem dificuldades de audição.

Fonte: Ratzka, Adolf. 1999-11. “A história da sociedade inclusiva na Europa.” (In Portuguese.) Internet publication URL: www.independentliving.org/docs6/ratzka199911.html

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