quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A HISTÓRIA DA SOCIEDADE INCLUSIVA NA EUROPA - PARTE 1




Por Adolf D. Ratzka (Diretor do Instituto de Vida Independente, Estocolmo, Suécia, 1999)
 
    A Europa compreende trinta nações diferentes, com grandes variações entre si no que se refere à economia, cultura, religião e sistemas políticos. Meu enfoque limita-se aos avanços na Europa Ocidental e do Norte. Em vez de fazer uma descrição e uma análise completa de cada um dos países aí incluídos, usarei exemplos de vários países para ilustrar as mudanças.
 
    Sociedade inclusiva é uma sociedade para todos, independentemente de sexo, idade, religião, origem étnica, raça, orientação sexual ou deficiência; uma sociedade não apenas aberta e acessível a todos os grupos, mas que estimula a participação; uma sociedade que acolhe e aprecia a diversidade da experiência humana; uma sociedade cuja meta principal é oferecer oportunidades iguais para todos realizarem seu potencial humano. Limitar-me-ei a discutir pessoas com deficiências, mas é importante lembrar que algumas das estratégias para a construção de uma sociedade inclusiva serão as mesmas para todos os grupos atualmente prejudicados, os quais podem provocar as mudanças políticas necessárias com mais rapidez, trabalhando juntos e apoiando-se mutuamente. Muitos termos têm surgido relativos à deficiência: reabilitação, integração, normalização, plena participação, igualdade, inclusão, todos focalizando o indivíduo. O indivíduo deve ser reabilitado, integrado, incluído, tornando-se normal. Em muitos desses conceitos ele é visto como objeto passivo de uma intervenção profissional. Não temos voz para dizer como desejamos ser reabilitados e nos tornar normais, e para que fim. O indivíduo carrega o problema. O fato de eu não poder subir escada é culpa minha e não do legislador, que não prescreveu rampas e elevadores. É problema do surdo não entender o noticiário na TV, não do canal de televisão, que não fornece texto escrito nem língua de sinais. O termo “sociedade inclusiva”, por outro lado, coloca a sociedade como aquela que deve mudar.
 
    Pelo mesmo motivo, não gosto da expressão “portador de deficiência”. Ser “deficiente” é desviar-se de uma norma. O que é “humano` para a condição humana? Quem decide isso? Homens de 20 a 40 anos ou bebês de um ano? Pessoas com 70 anos ou mulheres grávidas no ônibus, com muitas sacolas de compras na mão e uma criança de três anos, cansada, na outra? “Deficiente” é um termo absoluto e global. Precisamos de palavras que descrevam nossas limitações em atividades particulares e que apontem a possibilidade de compensar essas limitações. Eu trabalho na Organização Mundial de Saúde com essa finalidade. Mas, não importa o termo que usemos em referência a nós mesmos, devemos revesti-lo de conteúdo positivo. Precisamos ter orgulho de pertencer a uma minoria sem privilégios, que trabalha muito e com eficiência, num esforço global crescente, no sentido de melhorar seu status legal e material no mundo. Outros grupos já fizeram isso antes de nós. Por exemplo, negros e homossexuais nos Estados Unidos e na Europa já conseguiram mudar, lentamente, as conotações negativas desses termos.
 
continua...
 
Fonte: Ratzka, Adolf. 1999-11. “A história da sociedade inclusiva na Europa.” (In Portuguese.) Internet publication URL: www.independentliving.org/docs6/ratzka199911.html


 
 
 

 

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