quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

DO DIÁRIO DA ALINE - "VISTA ESTA IDEIA"

         
          Conversando com a minha amiga Aline, que é usuária de cadeira de rodas e também minha parceira e do Stevão no "Grupo Propulsão", tive a ideia de sugerir que ela passasse a contar algumas das suas experiências.
          Por incrível que pareça, poucas vezes nos damos por conta de como a sociedade reage frente as diferenças no que se refere a acessibilidade, inclusão, etc. Por isso, resolvi abrir este espaço no "Centauro Alado" para que a Aline pudesse compartilhar conosco suas vivências. Obrigado, Aline!!!

VISTA ESTA IDEIA por Aline Massoni

“Fazia muito tempo que toda vez que eu ia ao  shopping passava em frente a uma loja e via uns vestidos de malhas, bonitos e confortáveis e fáceis de vestir, requisitos que não são nada fáceis encontrar todos reunidos em uma só peça de roupa.
Mas, eu estava com receio de entrar na loja, visto que teria que experimentar os vestidos e que isso não era tão simples para quem é usuário de cadeira de rodas. Naquele dia 23 de novembro tomei coragem, respirei fundo e entrei na loja. Logo veio uma vendedora perguntando-me no que poderia me ajudar. Expliquei que queria comprar um vestido e como ele teria que ser, e a vendedora passou a separar algumas peças.
- Qual deles você quer? – perguntou-me a moça.
- Ainda não sei, gostaria de experimentá-los...
Naquele instante, fiquei com medo do que a vendedora iria dizer. Sorrindo, ela explicou:
- Não sei se a tua cadeira de rodas vai caber no provador, mas podemos tentar.
Pensei com os meus botões – se a cadeira não passar no provador, não vou levar o vestido...
A vendedora foi me encaminhando até o local e chegando lá, vimos que o provador era estreito e que  tinha exatamente o espaço pra cadeira de rodas e mais nada.
- Pode passar!- pediu a vendedora.
- É melhor que você entre primeiro, pois vou precisar de ajuda para me vestir!
Nesse momento me deu um frio na barriga. Já fui imaginando que ela poderia me dizer coisas do tipo “ai, me desculpa não posso fazer força” ou, “não sei como fazer”! Mas, para a minha surpresa ela prontamente entrou primeiro no provador e ficou bem no cantinho. Quando eu entrei no provador, nos demos por conta de um pequeno detalhe: o espaço era pequeno e não teria como fecharmos a porta. Ou seja, minha pivacidade seria zero. A vendedora, muito solicita e esforçada em ajudar-me, gritou para as suas colegas:
- Não deixem nenhum homem passar aqui pela frente do provador agora!
Naquele dia, experimentei uns cinco vestidos. Fui orientando a vendedora a como ela poderia me auxiliar e trocamos muitas ideias. Sugeri então que unificassem dois provadores para fazer um só, onde uma cadeira de rodas entraria e ficaria confortavelmente. Simpática, ela respondeu-me:
- Nunca tínhamos pensando nisso... E nunca uma cadeirante havia usado este provador antes... Tu fostes a primeira!
        
       Escolhi o vestido, saí do provador e fui para o caixa pagar. Ao me despedir da vendedora, ela disse:
       - Volte sempre que quiser, pois agora já estou craque em lhe ajudar!!!
       Fui embora feliz da vida com o vestido e me perguntando Por que essa minha compra tinha sido tão diferente das outras? Por que eu estava tão a vontade? Cheguei a conclusão que um pouco foi resultado de como eu reagi em relação a vendedora. Em outras compras eu chegava dizendo: desculpa, mas eu preciso de ajuda pra me vestir! Ou: tu não te importa em me ajudar? E dessa vez não, eu só comuniquei que precisava de ajuda pra me experimentar o vestido.
       Também pensei muito no que ela me disse: que nunca uma cadeirante tinha usado o provador, que eu tina sido a primeira. Sem dúvida,  acho q temos que sair mais pra rua para que as pessoas se dêem por conta das nossas necessidades."

                                                                      Aline Massoni

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