segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MICROCONTO DEVOTEE


CASA DE MASSAGEM   Herculano Neto

      Sou atendente de uma casa de massagem no Centro de Salvador há seis meses. Minha família acredita que trabalho como doméstica numa casa de família, mas na verdade ofereço serviços sexuais rápidos e baratos. Tudo é muito simples: os clientes tocam a campainha, encontram dez garotas trajando lingerie, escolhem a que desejam, depois pagam e vão embora, como se tivessem acabado de sair de uma lanchonete.

     Hoje, observando pelo olho mágico, tive a impressão de que havia um homem com um bebê. Quando abri a porta, descobri que ele carregava o irmão de dezenove anos, que não possuía nem braços ou pernas. O homem disse que era aniversário do irmão e queriam comemorar. As meninas, assustadas, baixaram a cabeça com receio de serem contempladas; eu não – talvez por isso ele tenha me escolhido.

      Dentro do quarto, tentei puxar conversa, descontrair o ambiente, mas ele não dizia nada. Então, tirei sua roupa cuidadosamente, segurei seu torso como se fosse uma boneca (ele era mais pesado do que aparentava) e o coloquei numa posição que eu imaginava ser a mais apropriada para o ato. Foi a primeira vez que gozei no trabalho.

CASA DE MASSAGEM II
Herculano Neto

      Cheguei ao mundo sem os braços e as pernas. Se existe vidas passadas, e lei de causa e efeito, como dizia minha vó, fico imaginando que merda fiz em outra encarnação.

      Todos os dias, meu irmão me deixa na Estação da Lapa pela manhã e me apanha depois do meio-dia. As pessoas que passam por mim, numa mórbida curiosidade, costumam deixar algum trocado, mas nunca peço nada. Muitas têm medo de mim, desviam o caminho, olham com asco, aceleram o passo: e isso me chateia. Sou um cara conformado, sem grandes aspirações na vida, apenas gostaria que me enxergassem naturalmente.

      Hoje é meu aniversário. Meu irmão prometeu que comemoraríamos com estilo. Ele disse que seria uma surpresa, mas me levou a uma casa de massagem — já desconfiava. Quando entramos, as garotas me olharam do mesmo jeito de sempre, escolhi a que parecia ter menos medo de mim. Dentro do quarto ela me tratou com muito cuidado, como se eu pudesse quebrar a qualquer momento, o que me deixou ainda mais chateado. Ela me colocou numa posição que não tinha como dar errado, então a fodi com fúria, com toda a força do meu coração, lembrando de cada olhar de desprezo das ruas, enquanto um sorriso de contentamento ganhava sua face.

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- Vou te contar um segredo.

- Qual?
- Eu transei com um homem de uma perna só.
- E aí, foi legal?
- Ele ficou numa posição ótima e me fez de moleta.
 
Este microconto foi escrito e publicado por Cleyton Cabral no http://cleytudo.blogspot.com/

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