quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A CRIANÇA CEGA - PARTE 2

 

A criança cega precisa de mais tempo.


      Não há grande diferença entre o modo de tratar um filho cego e outro que não o seja, apenas é necessário mais imaginação, mais paciência e geralmente mais disponibilidade, contudo não se trata de uma forma diferente de atuação. Não existe uma fórmula mágica que resulte sempre, tal como não há para as outras crianças. O método utilizado por uns pais pode não resultar com outros. Cada criança é um indivíduo. De criança para criança, os interesses são diferentes, as condições em casa também são, e daí que o método a utilizar tenha que ser igualmente diverso.
      Da mesma forma, não existe um método único para todos os pais, porque os pais também são diferentes, por isso não há informações ou sugestões que possam considerar taxativas. Ajudar qualquer criança a crescer é uma tarefa difícil. Por vezes pode até ser bastante ingrato e frustrante. Quando a criança é cega essa tarefa é ainda mais árdua, tanto para o pai como para a mãe.

A criança cega utiliza os outros sentidos.


      A aprendizagem e o comportamento da criança cega estão dependentes da audição, do tato, do gosto e do olfato. Desde muito cedo ela aprende a utilizar estes sentidos com maior grau de eficiência do que qualquer outra criança.
      A criança que vê, usa simultaneamente os olhos, os ouvidos e as mãos. Escuta a mãe dizer-lhe o que vai fazer e vê-a guardar um brinquedo numa caixa. Ela vê o que a mãe faz, ouve a explicação e em seguida imita.
      No caso da criança cega os ouvidos e as mãos têm que trabalhar em conjunto. Tem que ouvir e apalpar o que vai fazer. Muitas vezes os pais têm que a ajudar, motivando-a. Isto leva um certo tempo, e sobretudo exige dos pais maior paciência e força de vontade. Seria muito mais rápido e muito mais fácil, se os pais fizessem tudo em vez do filho, mas nesse caso ele nunca aprenderia a fazer nada.

Comparti-lhe das suas alegrias.


      Dê ao seu filho oportunidade para fazer coisas e tempo suficiente para isso. Estimule-o a dedicar-se a novas atividades. Quando ele aprende qualquer coisa, uma palavra nova por exemplo, a tirar uma meia ou a ajudar a mãe a pôr a mesa, compartilhe da sua alegria. Isso dar-lhe-á vontade de continuar a fazer novas experiências. Ele pode aprender quase tudo o que a criança que vê aprende. Pode aprender a fazer, com segurança, coisas que de início se pensariam impossíveis, como, por exemplo, correr, andar de patins ou de triciclo. Dará com certeza muitos trambolhões, mas acabará por conseguir, se não se ligar demasiada importância a isso. Todas as crianças dão trambolhões, umas mais do que outras.
      Alguns pais de crianças cegas pensam que cada vez que o seu filho cai é apenas porque não vê. Mas a maior parte das vezes isso acontece porque ele está a tentar manter-se em pé sozinho, a andar ou a mover-se de um lado para o outro. Tente dar-lhe muitas oportunidades de fazer coisas por si próprio. Deixe-o adquirir informação tátil através das suas próprias investigações. Dê-lhe sempre algo que lhe ocupe o cérebro e as mãos. Como todos os bebês, o seu gostará de amarrotar e rasgar papel, de brincar com blocos de madeira, com tampas de panelas ou de tocar tambor com uma colher de pau. As crianças aprendem muito com os seus brinquedos e objetos que manipulam. Hoje em dia muitos dos brinquedos que se vendem são feitos especialmente com essa finalidade: pequenos conjuntos de ferramentas, bonecas com roupas, serviços de chá, carrinhos, ônibus...
      Muitas vezes a criança que vê compreende imediatamente a utilização do brinquedo por já ter visto o mesmo objeto em tamanho natural a ser usado pelas pessoas crescidas. A criança cega pode já ter ouvido o barulho de um martelo ou de um serrote, já ter andado de ônibus, ouvido um avião, mas não tem uma idéia exata de como esses objetos são na realidade. Enquanto ela examina o brinquedo com as suas mãozinhas, explique-lhe bem para que serve, e como é. Mas não se admire se ela preferir usar o brinquedo de forma diferente daquela para a qual foi concebida. As crianças que vêem também fazem isso. Em vez de andar com o carrinho para traz e para diante, ela pode preferir virá-lo e fazer rolar as pequenas rodas com a mão. A criança não é obrigada a seguir as regras de utilização dos brinquedos.
      Quando der de comer ou vestir o seu filho, dê-lhe qualquer coisa para estar entretido e fale com ele sobre isso. Fale com ele desta maneira: "Agora vamos vestir o casaco. Estende o braço.". Antes de lhe pegar ao colo, diga-lhe: "agora, upa!", para o preparar. Desta maneira ele aprende o significado de algumas palavras e relaciona-as com o que se está a fazer. Quando lhe disser "Aqui tens a tua torrada", ele estenderá o braço para pegar. Use exatamente as mesmas palavras que as pessoas que vêem usam. "Maria, olha que lindo vestido tem esta boneca!", "João, vamos ao jardim ver as flores.". Mas, quando disser estas coisas, deixe a Maria ver o vestido tocando-lhe com as mãos, ou deixe o João ver as flores, pegando-lhe e cheirando-as. Pelo tato é perfeitamente possível distinguir o cetim da lã, da mesma maneira que pelo olfato podemos sentir a diferença entre uma rosa e um cravo, com tanta certeza como utilizando os olhos.

Permita-lhe fazer muitas experiências.


      Tudo o que o seu filho faz, todos os lugares onde vai, tudo o que manipula e fica conhecendo - por outras palavras, todas as suas experiências - ajudam-no no seu desenvolvimento cognitivo. Leve-o consigo à mercearia, ao armazém, ao jardim, à praia, ao rio, ao jardim zoológico, ao museu, à igreja, ao ao supermercado, à casa da vizinha, à biblioteca, ao restaurante, ao posto de gasolina, ao emprego do pai... Isto é, leve-o consigo para toda a parte. Tente sair com ele todos os dias. Vá a pé em vez de ir de carro ou de ônibus, e, quando regressar a casa, fale com ele sobre o que aconteceu. Vá-lhe explicando o que está mostrando e, sempre que possível, deixe-o tocar e apalpar as coisas para as sentir bem. Ele tem tanto interesse como os outros. A sua curiosidade aumentará se for estimulada.


* Traduzido de: "The preschool child who is blind".
U.S. Department of Health, Education and Welfare..
Tradução: DGEBS - Divisão do Ensino Especial - PT.


FONTE: http://www.bengalalegal.com/

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