sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O TERREMOTO DE LISBOA





No dia 1 de novembro de 1755 às nove e trinta da manhã, quando, pelo feriado religioso de Todos os Santos, grande parte da população estava nas igrejas, Lisboa foi atingida pelo terremoto mais destrutivo conhecido até então na Europa. Muitos sobreviventes fugiram para a planície às  margens do Rio Tejo, onde foram atraídos pela visão de navios destruídos, expostos por surpreendente recuo das águas. Sobreveio então a segunda parte da catástrofe, com um gigantesco Tsunami, de ondas de dez a vinte metros. Mas haveria ainda uma terceira parte da desgraça, com grande incêndio, iniciado pelo fogo das casas e pelas velas das igrejas iluminadas. Como não havia quem apagasse o incêndio, Lisboa ardeu durante cinco dias. Informações sobre o número de mortos em Lisboa estão entre 10.000 e 30.000, mas houve mortos também em outras regiões como o Algarve, o noroeste da África e o sudoeste da Espanha.



A análise do acontecimento provocou profundas reflexões por toda a Europa. Intelectuais da época como Voltaire, um expoente do Iluminismo, Kant, Rousseau e Goethe escreveram sobre o terremoto. Portugal era um dos países mais religiosos da Europa e a maior parte da população interpretava acontecimentos do tipo como castigo divino. 


   
    Até 1750, Portugal havia sido governado pelo monarca absolutista D. João V que havia realizado obras grandiosas como o Aqueduto das Águas Livres, o Convento de Mafra ( o do “Memorial do Convento” de José Saramago) e a famosa Biblioteca Real, na época uma das maiores da Europa. Apoiava o desenvolvimento da música e das letras e recebeu os títulos de Magnânimo, pela generosidade com os membros de sua Corte e de Fidelíssimo, outorgado pelo Papa, por sua religiosidade. 
    A riqueza era sustentada principalmente pelo ouro e pedras preciosas do Brasil. Foi sucedido por D.José I, avô do nosso D. João VI . Foi neste cenário, dominado pelos fidalgos e pelos religiosos, principalmente pelos Jesuítas, que ocorreu o terremoto.


    D José I não sabia o que fazer, diante das desgraças do terremoto e foi socorrido pelo Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, que havia antes servido na Diplomacia. Com apoio do Rei, Pombal assumiu total controle da situação, definindo como tarefas urgentes “enterrar os mortos e socorrer os vivos”. Suas providências foram imediatas:

1) ainda no dia do terremoto, instalou posto de distribuição dos mantimentos que foi possível encontrar nos escombros e o que chegava de fora, recebido nas portas da cidade ou no Tejo 

2) foram deslocados para Lisboa regimentos militares de várias regiões do país; 

3) foram formadas equipes para desobstrução e remoção dos mortos; 

4) decreto instituiu aparelho judicial de emergência para processo verbal e sumário de saqueadores, especuladores e outros contraventores. Foram instaladas novas forcas. 

5) foram construídas barracas de lona (das velas dos navios) e de toda a madeira que se encontrou, para os desabrigados , que chegavam a 2/3 da população; 

6) foram tomadas providências para a reconstrução de Lisboa, que é hoje considerada grande obra do Marquês de Pombal. 

    Os testemunhos, observações e relatos sobre o terremoto de 1755 foram muito importantes para estabelecer os fundamentos da Sismologia. Inspirado por um colaborador, desconhecido, Pombal enviou a todas as Paróquias do país, com obrigatoriedade de resposta, sob pena de sanções, questionário sobre o sismo, com perguntas muito objetivas e que se aproximam do que se perguntaria hoje para definir a intensidade de um sismo. Parte destes questionários foi descoberta no século XX e tem sido utilizada para vários estudos do sismo. Acredita-se que o epicentro tenha sido próximo ao Banco de Gorringe, cerca de 200 km a sudoeste do Cabo de São Vicente e que a magnitude tenha sido próxima de nove. Houve réplicas durante mais de dez anos, com mais de 250 sismos durante os primeiros seis meses. Na reconstrução de Lisboa, houve estudos para projeto de estruturas que resistissem aos sismos, que talvez tenham sido os primeiros trabalhos de Engenharia Sísmica.

FONTE: http://www.iag.usp.br/geofisica

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