segunda-feira, 25 de junho de 2012

INCLUSÃO: CRIATIVIDADE E BOA VONTADE




      Voltando ao assunto inclusão de crianças com deficiência em escolas, vou contar agora a experiência que tive juntamente com a equipe da Kinder na Escola Moradas da Hípica. A Bruna, minha paciente já há dois anos, começou o seu processo de inclusão numa escola regular em março. Até o ano passado, ela era aluna da professora Mariana, e dividia a sala de aula com outras crianças com deficiências.  Quando as aulas começaram em 2012, Bruna passou a ser a única criança com deficiência na sua sala de aula.
      Logo, as primeiras dúvidas por parte da professora apareceram: o que Bruna podia ou não fazer, quando que deveria ser auxiliada, como fazer com que ela tivesse as mesmas experiências do que as outras crianças... Nesses casos, o melhor é ser o mais objetivo possível, ou seja, receber perguntas diretas e oriundas de situações vivenciadas durante o dia a dia da sala de aula.
      Bruna precisa de um adaptador para escrever? Bruna precisa de uma cadeira adaptada para sentar-se na sala de aula? Como fazer para Bruna brincar na pracinha com os demais colegas?
      Penso que Inclusão começa assim: Tirando dúvidas e conhecendo a realidade do aluno e da escola.  Ninguém sabe tudo. Ninguém tem todas as respostas... Porém, quando juntamos forças, o resultado tende a ser positivo.  Por isso, uma rede de apoio sempre é importante, bem como o interesse dos educadores.
      A primeira parada foi na pracinha da escola. Conforme a lei sancionada em 2010 pelo vereador Waldir Canal, praças adaptadas para crianças com deficiências deveriam existir em Porto Alegre. Porém, a prefeitura não tem respeitado a legislação e o resultado é que crianças com deficiência no geral ficam longe das pracinhas.

      Como a escola não possui praça adaptada, a professora da Bruna – com muita boa vontade, diga-se de passagem – tentava ao máximo incluir a aluna nas brincadeiras. No escorregador, ela descia junto com a menina, prendendo-a entre as suas pernas.  Sugeri à professora que deixasse Bruna escorregar sozinha, visto que é muito mais gostoso descer livre no escorregador do que atrelado a outra pessoa.


Bruna no escorregador com a professora Graciela



      Como Bruna não consegue sentar-se sozinha, a colocamos num colchonete para que pudéssemos puxá-la  deitada e então ela desceu pelo escorregador sem que ninguém a estivesse segurando.

      Ainda na pracinha, a professora quis saber se a Bruna poderia brincar na gangorra... Sim, poderia... Com a supervisão de um adulto que a mantivesse sentada, a brincadeira poderia sim acontecer, e novamente sugerimos como fazer.


      Nada demais. Nada de sugestões requintadas ou complexas. Tudo muito simples. Inclusão também se faz com boa vontade e criatividade.

      A segunda parada foi na escola, onde algumas adaptações foram sugeridas nos mobiliários utilizados pela Bruna em sala de aula e no refeitório. A cadeira ideal, as adaptações necessárias, etc.
      Creio ter sido um momento muito proveitoso, tanto para as professoras da escola, quanto para a equipe da Kinder. Porém, quem mais ganha com essa troca de conhecimentos e de ideias é o aluno.  Incluir uma criança com deficiência numa sala de aula regular não é uma tarefa fácil, mas também está longe de ser algo impossível.

Equipe Kinder e professoras da Escola Moradas da Hípica

      Entender que a criança com deficiência não é um extraterrestre já é um bom começo. Uma criança que não se locomove pode brincar no chão com os seus colegas. Para isso, em determinados momentos, poderá necessitar de algo que a posicione (de acordo com a atividade proposta pela professora), como uma calça de posicionamento, por exemplo.  O medo de que “ela seja pisada” ou machucada acidentalmente por um coleguinha é bastante natural entre os educadores nessas horas. Porém, o que se observa é que no geral, as crianças acabam se entendendo bem, mas isso não quer dizer que o educador não deva estar atento a forma pela qual os seus alunos interagem.

      Todavia, alguns aspectos da inclusão já podem ser passados pelos professores aos seus alunos no dia a dia. Estimular brincadeiras e atividades onde todos possam participar, independente de terem ou não uma deficiência exige criatividade. Tornar a sala de aula acessível também é outro desafio. Organizar a sala de forma que a cadeira de rodas (no caso de criança cadeirante) transite de um lado ao outro vai depender da estrutura da escola e da boa vontade de todos. Importante nessas horas é entender que tornar acessível não é apenas facilitar, mas sim, tornar possível...
      Saí satisfeito da escola Moradas da Hípica naquela ocasião e cada vez mais convencido de que inclusão se faz assim: ouvindo, discutindo, trocando... E é claro, colocando em prática.

Cristiano Refosco

5 comentários:

  1. Adorei a materia quando fores a Moradas e puderes me avisar pois moro bem pertinho e assim já faço a materia com vc, já morei lá e adoro o lugar.Vou compartilhar um post teu que achei muito legal.Sobre preconceito.
    Carol

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    1. Na verdade, não tenho prazo para retorno na Moradas, visto que tínhamos apenas a Bruna como aluna de inclusão, Carol... Melhor pensarmos um outro momento para nossa conversa. Continuo à sua disposição! Beijo!

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  2. Gente estou aqui emocionada e em lagrimas pois é maravilhoso ver esta oportunidade de inclusão com a Bruninha,nossa bombom da Kinder ea Barbara tão receiosa no inicio,parabéns e que atitudes e possibilidades como esta sejam cada dia mais normal....ME ORGULHO DE TER MINHA FILHA NESTA INSTITUIÇÃO CHAMADA KINDER,PARABÉNS AOS PROFICIONAIS E VAMOS TENTAR MELHORAR CADA VEZ MAIS

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  3. Linda Bruna, tenho o privilégio de estar com ela boa parte das manhãs. Determinada, inteligente e muito sapeca não se 'prende', faz tudo o que os coleguinhas fazem, sempre procurando fazer o melhor! Pinta, brinca, desenha, recorta, cola, canta, faz educação física e capoeira (com auxilio ou não ) se diverte!!! Sempre escuto palavras de otimismo dela, nunca está desanimada.(QUE LEGAL!!! por ela é usado com frequência)Tenho aprendido muito com esta pequena notável...
    Ellen Ananda (Estagiária de Inclusão da EMEF Moradas da Hípica)

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  4. Parabéns Cristiano à você e toda equipe da Kinder!!! Sou supervisora da escola Moradas da Hípica e tenho muito orgulho em fazer parte desta escola com pessoas tão competentes e acima de tudo, tão preocupadas em tornar a alegria de estar na escola um direito de todos independente da capacidade de cada um, assim como "minha" excelente professora Graciela, sempre disposta a ir além de seus próprios limites, sempre buscando o melhor para seus alunos, para todos seus alunos... Abraço!!! Luciana

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