quinta-feira, 28 de julho de 2016

GRANDES IMPERADORES - CALÍGULA


 
   
      Está claro que o imperador se relacionava com a sua família de maneira diferente que os outros fizeram. As irmãs eram presença constante ao seu lado nos eventos públicos e foram imortalizadas em moedas. Drusilla (a irmã amada, ponto central da peça Calígula, de Albert Camus), foi endeusada depois de morta. Todas essas ações eram inéditas para a época. Mas nada disso significa que havia uma orgia em família. "O incesto foi uma criação posterior da historiografia", diz Fábio Faversani, historiador da Universidade Federal de Ouro Preto. Há ainda uma explicação política. Como não tinha grandes conquistas militares, Calígula precisava se provar merecedor do posto pela linhagem que remontava a Augusto. Ao homenagear os familiares, justificava a própria posição. As sutilezas da política também estariam por trás da nomeação de Incitatus. "Houve uma ameaça. Quando Calígula foi perguntado sobre quem seria o cônsul no próximo ano, ele respondeu que preferia o seu cavalo aos candidatos disponíveis. É uma resposta de alguém sarcástico (não louco), tirada do contexto", afirma Barrett.

      Ele foi acusado de levar Roma à falência. Mas realizou grandes construções. Concluiu projetos iniciados por Tibério e iniciou outros. O seu feito mais extravagante, que parecia um exagero das fontes clássicas, acabou comprovado na década de 1930, quando foram achados no lago de Nemi os restos de dois barcos gigantescos. O maior, com quilha de 70 m, era um palácio flutuante. Aí sim um sinal de megalomania.


 


      Na área militar, ele não teve nada de brilhante, mas sua atuação foi positiva. Iniciou a conquista da Britânia, atual Inglaterra. Antes, indicam as evidências arqueológicas, criou uma estrutura de fortes e armazéns, preparando-se para a conquista do território, efetivada por seu sucessor, Cláudio.

      Mas a característica mais marcante de Calígula está na sua adoração pelo entretenimento. Em contraste com a severidade de Tibério, abraçou as aparições públicas e a realização de festivais, que incluíam combates de gladiadores e com feras selvagens, corridas de cavalos e peças teatrais. Mandou reduzir as armaduras dos lutadores, o que o fez ser ainda mais adorado pela plebe, especialmente nas ocasiões em que distribuía comida e dinheiro.

      Essa gastança poderia ter destruído as finanças públicas e iniciado uma espiral inflacionária. E Cláudio teria pago o pato. Mas não, não há registro de problemas financeiros no governo dele. Isso não quer dizer que a economia foi perfeita sob Calígula. Serve, porém, como indício de que ele talvez não fosse o perdulário inconsequente que os historiadores clássicos pintaram.


 
Morte de Calígula


      Cansados dos arroubos e das tendências absolutistas do imperador, senadores e membros da guarda pretoriana conspiraram para matá-lo. Aos 29 anos, Calígula tombou a golpes de adaga - segundo uma versão foram 30, mais do que levou Júlio César. A sua mulher Cêsonia (a quarta que ele desposou) e a filha Júlia Drusilla, de 2 anos, também foram assassinadas. Ao saber que o imperador estava morto, a população de Roma demandou justiça. O seu tio Cláudio, laureado imperador, atuou para acalmar os ânimos da massa e iniciou uma campanha contra a reputação do morto. "Cláudio precisava condenar o assassinato de um imperador, senão estaria em risco, mas precisava justificar a morte de Calígula. Ao difamá-lo, ele afirma que o bom sistema imperial foi pervertido por um tirano", diz Barrett. E a campanha se seguiu.

     Um louco varrido seria capaz de demonstrar sagacidade política (para chegar ao poder... Mantê-lo foram outros quinhentos) e ter o apreço da população? Cabe refletir se ele não foi basicamente um populista, um jovem esperto e intolerante, arrogante e inseguro, marcado pelos jogos de poder que exterminaram sua família. Não é difícil supor que ele tenha reproduzido essa violência contra quem discordava de si. E modos extravagantes, como ele provavelmente tinha, cada imperador romano teve os seus. Definir sua figura por estereótipos, como os fatos demonstram, está longe de apresentar uma noção satisfatória de quem foi Calígula.

FONTE: http://guiadoestudante.abril.com.br/



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