domingo, 7 de novembro de 2010

APARELHO PARA AJUDAR CEGOS A PEGAREM ÔNIBUS EM PORTO ALEGRE

          Criado por um inventor mineiro, o sistema inteligente que ajuda deficientes visuais a tomarem ônibus com autonomia será implementado na frota de Porto Alegre. A novidade, que será testada em três veículos da Carris, permite que cegos sejam identificados nas paradas pelos motoristas dos coletivos.




         O DPS 2000, aparelho transmissor de sinais por ondas de rádio criado pelo vendedor mineiro aposentado Dácio Pedro Simões, tem  aparência e peso de um pager e  chama táxi ou ônibus para o ponto e emite um aviso sonoro quando o veículo estaciona. É uma alternativa para que os cegos possam usar o transporte público sem auxílio de um bom samaritano.
          Para funcionar, um dos aparelhos fica com o deficiente e o outro é instalado no ônibus ou no táxi. No teclado, em braile, o cego seleciona o meio de transporte e digita o número da linha ou o bairro do ônibus que quer. O aparelho envia um sinal para ser captado pelo receptor do veículo, que deve estar no máximo a 150 metros de distância. Quando ele se aproxima do ponto, o sistema emite um som para avisar o passageiro (se a linha escolhida é a de número três, o aparelho apitará três vezes seguidas).

      DPS 2000

          Numa tarde, há quase seis anos, a vida do então aposentado sofreu uma guinada. Num ponto de ônibus, Dácio foi abordado por um deficiente visual que lhe fez um pedido relativamente simples: quando se aproximasse tal linha de ônibus, Dácio sinalizasse para o motorista e lhe avisasse. Disposto a ajudar, Dácio aguardou a chegada da linha desejada lendo um livro ao lado de seu novo companheiro que, tempos em tempos, cutucava-lhe o braço. Depois de esperar por quase uma hora, perder duas conduções que lhe serviam, ser cutucado diversas vezes e assistir à formação de pesadas nuvens que anunciavam um temporal, Dácio se desculpou. Não podia esperar mais, tinha um compromisso inadiável. O deficiente agradeceu por avisá-lo que estava saindo. "É que muitas vezes, as pessoas vão embora e nos deixam aqui, acreditando que a ajuda está garantida."

    Dácio, o inventor
          
          Debruçado sobre uma prancheta, Dácio bolou o primeiro projeto: um cartaz com letreiro em cristal líquido e um pequeno teclado em Braille. Com ele, o deficiente poderia digitar a linha de ônibus desejada e expô-la aos motoristas. Idéia no papel, Dácio procurou o Instituto São Rafael, escola pública especializada no ensino de deficientes visuais de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, que atende 380 estudantes. Queria ouvir a opinião de potenciais usuários. Lá conheceu Juarês Gomes Martins, professor da escola e presidente da Associação dos Amigos do Instituto, que lhe contou de experiência semelhante desenvolvida em Campinas. Mas os testes apontaram vários inconvenientes. "À noite, por exemplo, os motoristas não poderiam enxergar o deficiente no ponto. E ainda tínhamos de trabalhar com os obstáculos naturais como árvores, sinalizações de trânsito e mesmo outros usuários que impediriam a visão", relembra Dácio.
          De volta à prancheta, Dácio entendeu que teria de trabalhar com algo que rompesse barreiras. A resposta estava num companheiro inseparável: o rádio de pilhas. Mas para projetar um equipamento que utilizasse ondas de radiofreqüência, o inventor autodidata precisaria de ajuda especializada, encontrada num amigo professor de eletrônica em cursos profissionalizantes do Senai. Mais de dois anos depois do incidente no ponto de ônibus, saía da cabeça do inventor para o papel o DPS 2000, composto por um par de pequenos rádios que emitem e recebem mensagens de ondas de radiofreqüência. Acionado pelo deficiente por meio de um teclado de códigos em Braille, o equipamento emissor enviaria a mensagem para o receptor instalado em ônibus e táxis num raio de 200 metros. Alertados por um sinal sonoro ou luminoso, os motoristas atenderiam o chamado. Era o início do fim da dependência dos deficientes pela boa vontade alheia. 
          Além de deficientes visuais, o DPS 2000 também pode ser usado por  idosos e pessoas analfabetas. Grande iniciativa!

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