por Jerônimo
Teixeira
Na escala da história humana,
o hálito perfumado, o cabelo sedoso, a axila desodorizada (e depilada,
se feminina) são novidades absolutas. A higiene pessoal, tal como é
concebida hoje na maioria dos países, só se estabeleceu em efetivo
no século XIX. Antes disso, as pessoas não apenas toleravam a sujeira
como ainda, muitas vezes, se compraziam com ela. A evolução dos
cuidados íntimos deu-se aos trancos, com pequenos avanços seguidos
de longos recuos. E até mesmo produtos de utilidade óbvia, como
o papel higiênico (que recém-completou 150 anos), não só
demoraram a ser inventados como encontraram resistência para ser aceitos.
Dois livros lançados na Inglaterra e nos Estados Unidos, Clean –
A History of Personal Hygiene and Purity (Limpo – Uma História
da Higiene Pessoal e da Pureza), da inglesa Virginia Smith, e The Dirt on Clean
(algo como O Lado Sujo da Limpeza), da canadense Katherine Ashenburg, reconstituem
a trajetória da higiene na civilização ocidental. Com detalhes
sórdidos – e anedotas sujas.
Virginia Smith, pesquisadora associada do Centro de História da Saúde
Pública da London School of Hygiene and Tropical Medicine, tomou um caminho
mais acadêmico, que parte de considerações biológicas
sobre os cuidados de macacos e outros mamíferos com o corpo para então
compor a moldura histórica mais ampla. Katherine Ashenburg, jornalista
que já havia escrito um livro sobre as práticas de luto ao longo
dos séculos, toma um caminho mais cultural, discutindo os hábitos
íntimos de uma larga galeria de personagens (veja quadro nas págs.
194 e 195). As duas obras coincidem em uma constatação potencialmente
polêmica: o cristianismo representou um retrocesso na história da
higiene. Praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram
grande valor ao cuidado com o próprio corpo e com o bem-estar físico.
Os egípcios já fabricavam sabão. A religião grega
previa uma série de libações antes de sacrifícios
animais e refeições, e o banho era uma instituição
cotidiana, registrada até nos mitos – em seu retorno da Guerra de
Tróia, Agamenon é assassinado na banheira por sua mulher, Clitemnestra.
O Império Romano criou aquedutos para abastecer suas principais cidades.
O romano abastado freqüentava diariamente os banhos públicos, onde
o corpo era lavado em uma sucessão de piscinas com temperaturas variadas
e esfregado vigorosamente – não se usava sabão – para
retirar todas as sujeiras. Tudo isso desapareceu com a queda do império
e a prevalência dos cristãos.
FONTE: veja.abril.com.b
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