Depois de 40 minutos de estrada, lá estávamos na pequena cidade de São Miguel das Missões. Quando o taxista anunciou que estávamos chegando, olhei para o lado e vi ao longe, as ruínas da velha igreja e que fora construída entre 1735 e 1745, exatamente cem anos antes da Revolução Farroupilha. Quem a projetou foi um padre italiano chamado João Batista Primolli, e era originalmente para ela ter duas torres, e não uma. A outra torre, que não chegou a ser construída, era para ser um observatório astronômico. A cena não sai da minha cabeça: jesuítas avistando as estrelas num céu iluminado do século XVIII.
No exato instante em que meus olhos vislumbraram a igreja, meu celular tocou. Era alguém, querendo confirmar minha presença num evento qualquer. A vontade de continuar olhando para a igreja e de me desprender do mundo real naquele instante, fez com que eu fosse bem enfático no "não" ao celular. Que evento poderia ser maior do que o meu encontro com as ruínas? Mas, que culpa a mulher do outro lado da linha tinha? Acaso teria ela como adivinhar onde eu estava naquela hora?
O táxi parou junto a entrada do parque. Chuviscava. Uma parte minha torcia para que a chuva não aumentasse, enquanto outra, dizia que não seriam pingos generosos de água que iriam atrapalhar aquele encontro.
A entrada do parque era feita por uma pequena casa onde os ingressos eram vendidos. Após pagar cinco reais, eu e o taxista - que a partir dali me serviria de guia - adentramos nos limites das ruínas. Em virtude do mal tempo, não havia nenhum ônibus de excursão naquela tarde, o que fazia de mim e do meu cicerone os únicos visitadores da velha igreja construída pelos índios e pelos jesuítas. Baita privilégio.
Cristiano Refosco
Cristiano Refosco
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