Claudia Marcelino foi doceira por 16 anos, até que descobriu
na dieta sem glúten, sem lactose e sem aditivos químicos, uma aliada no
tratamento do autismo do seu filho Mauricio. Claudia então passou a
dedicar-se inteiramente à construção de uma nova rotina para sua
família, com hábitos alimentares completamente diferentes. Hoje, a
estudante de Nutrição da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), comemora a recente vitória contra o monstro do
vestibular, mais uma forma de se aprimorar e continuar na luta pela
melhoria de vida do seu filho e de outras crianças autistas. Responsável
pelo site “Desvendando o Autismo”, do blog “Cozinha sem glúten e sem
leite” e autora do livro “Autismo: Esperança pela Nutrição – Historia de
Vida, de Lutas, Conquistas e Muitos Ensinamentos”, Claudia Marcelino
compartilha com os leitores da Anna Ramalho alguns de seus
conhecimentos.
Como você descobriu que a alimentação era importante no tratamento do autismo?
Através de informações
de pais passadas em grupos de discussão sobre autismo na internet. Meu
filho até os 16 anos foi tratado de forma convencional, com medicação
psicotrópica e tratamento terapêutico multidisciplinar, mas não estava
satisfeita com os resultados. Então comecei a ler e vi que tinha
alternativas. Resolvi tentar para ver se teria resultados melhores.
Quais são as restrições e permissões alimentares do seu filho Maurício?
Comecei em 2007 retirando glúten, caseína, soja, aditivos
químicos corantes e conservantes. Passei a oferecer a ele uma dieta mais
saudável, a mais natural possível, à base de grãos, legumes, verduras,
frutas, carnes, oleaginosas, sementes e leites vegetais. Fazia a maior
parte de todos os seus alimentos em casa.
Com a melhora do quadro e com o organismo mais limpo, passei a perceber
que ele reagia comportamentalmente com um quadro de alergia cerebral,
que está bem explicado em um post do meu blog “Sinos de Vento”. Aí
vários outros alimentos tiveram que ser retirados, reforçando com outros
que ele não reagia e ricos nutricionalmente como o abacate, o inhame,
os caldos de carne e peixe e sementes germinadas.
Quais as melhoras observadas no comportamento e na saúde do Maurício com a alimentação regrada?
No final de 2012 ele não apresentou mais nenhum sintoma de
alergia cerebral, como agitação, agressividade, espasmos musculares,
entre outros. Isto graças à melhora do seu sistema imunológico. Ele
também não toma mais nenhuma medicação psicotrópica, o que é difícil de
ser visto
quando se trata de autistas adultos clássicos e severos. Ele teve
ganhos nas três áreas que a síndrome compromete: socialização,
imaginação e interesse, além dos ganhos na área da saúde. Sua escala de
comprometimento avaliada pelo questionário “ATEC – Checklist de
Avaliação do Tratamento do Autismo”, baixou em mais de 30 pontos. Estes
são resultados muito animadores, pois estamos falando de um autista
clássico, severo, adulto. Nesta fase o tratamento costuma estar bem
estável, sem ganhos significativos e com muitos casos de bastante
comprometimento até pela falta de tratamento adequando na infância.
Por que cortar o glúten, o leite animal e os aditivos químicos?
O assunto é bem complexo, envolve vários sistemas metabólicos. Não é
apenas uma questão de alergia ou intolerância. Hoje temos fortes
evidências através de pesquisas científicas que o autismo é uma espécie
de inflamação cerebral. A alimentação ajuda a diminuir esta inflamação,
dando chances para uma recuperação maior das funções cerebrais.
Você lançou o livro “Autismo: Esperança pela Nutrição”. Como a
comunidade médica no Brasil vê a questão alimentar no tratamento do
autismo?
No geral o entendimento da classe médica ainda é zero,
impressionante! Ainda estão esperando comprovação científica com grupo
controle e testes placebo para um posicionamento, e isto talvez nunca
aconteça pelo simples fato de que não consumimos pílulas! Sabemos
exatamente o que estamos comendo e a comida sem glúten por mais gostosa
que seja, é diferente da comida com glúten, não dá pra comer enganado,
como é no teste com placebo. Não dá para o grupo de controle não saber o
que está consumindo. Além do mais, todos os testes com grupos de
controle e placebo demandam pouco tempo para exibir o resultado da
pesquisa, cerca de um mês. Pra medir o resultado da dieta é necessário
no mínimo 8 meses. Fica inviável financeiramente e quem banca pesquisa
científica não produz comida, e sim pílulas, por isso a falta de
interesse! Todos os princípios justificáveis para a utilização de uma
dieta específica para autistas estão em livros de biologia, fisiologia,
imunologia, biologia molecular. A solução para tratar pela alimentação é
saber que tipos de problemas os autistas costumam apresentar, saber os
exames que devem ser feitos, pegar o resultado das pesquisas clínicas e
estudar como aplicar e direcionar para cada caso. Felizmente os grupos
de discussão e ajuda para pais estão crescendo, os congressos estão
acontecendo, as boas informações estão mais acessíveis e os pais estão
mais exigentes. Isto tudo faz com que médicos busquem caminhos que estão
sendo sinalizados e, aos poucos, mais médicos estão indicando uma dieta
específica.
Além da alergia alimentar, quais são os outros agravantes e causadores de autismo?
Tem artigos e mais artigos científicos apontando para mercúrio e
metais pesados devido à predisposição genética de dificuldade de
desintoxicação, vírus, bactérias, parasitas, fungos, poluição, falta de
nutrientes como vitamina D, zinco e outros, diversos fatores ambientais,
doenças autoimunes.
E o que pode auxiliar no alívio dos sintomas da síndrome?
Sempre um tratamento em conjunto de fatores biológicos aliado a terapias comportamentais, sensoriais e sociais.
O autismo tem cura?
Não, não tem cura. Tem recuperação. A pessoa pode melhorar muito a
sua condição, podendo levar um vida plena de tributos e prazeres como
qualquer pessoa típica.
Qual a dica que você daria para os pais que estão na dúvida ou confirmaram o diagnóstico de autismo em seu filho?
Comprem o meu livro e tratem-no da forma mais natural possível. A
alimentação pode sim fazer uma enorme diferença no quadro do autismo.
FONTE: Site Anna Ramalho
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