Em
2011 fiz um curso de Libras (Língua brasileira de Sinais) aqui em Porto Alegre.
Havia decidido que um dos livros da minha
coleção seria sobre surdez, e para isso, precisava conhecer um pouco mais sobre
o assunto. Nunca trabalhei com pessoas surdas. Surdos, para mim, eram pessoas
que passavam na rua com suas próteses auditivas ou gesticulando com as mãos e
fazendo caretas.
O
curso foi bem legal e me deu uma breve noção do universo dos surdos. A primeira
coisa que aprendi no curso de Libras é que não existe surdo-mudo, mas sim,
surdo. Mudo é quem não fala por alguma limitação do seu aparelho
fono-articulatório, e não quem não ouve. E, também aprendi que Libras não é uma linguagem,
mas sim, uma língua.
O
conto de fadas escolhido para tratar de surdez
foi João e Maria, que na versão inclusiva ganhou o nome de “Cócegas na
Floresta”. A história montada na minha
cabeça era muito simples: João e Maria, dois gêmeos surdos, se perdem na floresta e vão parar na casa de
doces de uma bruxa. Até aí, nada de diferente
do conto original. A bruxa prende João numa jaula e faz com que Maria trabalhe para ela. Os dois
irmãos, que se comunicam unicamente por gestos, tentam armar uma fuga e para
isso, se valem do fato da bruxa não conhecer os sinais que eles utilizam.
“Cócegas na Floresta” traz dois diferenciais
dos outros 10 livros: primeiro, que os
protagonistas são negros. Confusões a parte, dia desses, um amigo meu que não
havia identificado qual a deficiência que João e Maria tinham na capa do livro,
acabou comentando indignado:
- Ô, meu! Ser negro não é deficiência!
Tive
que rir da confusão que ele fez, mas compreendi. Afinal, de todas as
deficiências, a surdez talvez seja a menos visível e detectável.
Já
o segundo diferencial de “Cócegas na Floresta” é que a bruxa também possui uma
deficiência. A feiticeira não enxerga um
palmo diante do seu nariz sem os seus óculos, fato que possibilita a fuga dos
dois irmãos.
O
título do livro só se justifica no final da história, quando João e Maria
finalmente escapam das garras da bruxa, mas óbvio que não vou contar aqui como
ela termina!
por Cristiano Refosco
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