CHAPEUZINHO DA CADEIRINHA DE RODAS VERMELHA
Era
para ser somente mais uma corrida na Redenção. Porém, quando eu estava dando a última volta
no parque, caminhando e curtindo o ritmo da respiração voltar ao normal, uma
imagem saltou iluminada na escuridão da minha mente: Chapeuzinho Vermelho
sentada numa cadeira de rodas... O que é isso? – pensei com meus cadarços... De
onde veio essa ideia e o que ela significa?
Chapeuzinho
Vermelho nunca foi o meu conto de fadas favorito. Branca de Neve e Cinderela,
sim. Acho que Chapeuzinho nunca me chamou a atenção justamente por não ter nada
de encantamento, como bruxas ou fadas. O máximo que tem é um lobo falante.
Mas,
naquela noite de junho de 2010, a ideia da Chapeuzinho na cadeira de rodas
perseguiu-me até em casa e eu fui rápido para o Google. Alguém, em algum lugar
do mundo já deveria ter colocado Chapeuzinho Vermelho numa cadeira de rodas...
Pouco crível que eu tivesse pensado numa coisa que ninguém ainda tivesse
concebido.
A
consulta ao Google deu negativa. Contos de Fadas e deficiências ainda não tinham
se cruzado nem no Brasil e nem em nenhum lugar do mundo virtual. A partir daí,
a história foi-se montando na minha cabeça de forma automática. Chapeuzinho
passeando na floresta, tocando a sua cadeira de rodas. Floresta sem
acessibilidade e Chapeuzinho caindo num buraco. De imediato, é ajudada pelos
seus amigos bichinhos, que tentam em vão tirá-la da encrenca onde se meteu...
Até que chega o lobo, forte e “bem intencionado” e empurra a cadeirinha para fora
do buraco.
Concluída
a história numa folha de caderno, passei a esboçar ilustrações que endossassem
o texto. Nessa época, eu não tinha a menor pretensão de fazer as ilustrações
dos livros, visto que não sou ilustrador profissional e que considero não ter
nenhum talento para tanto. Só mais tarde é que o Leandro Selister me
convenceria a usar os meus traços na coleção.
Chapeuzinho
acabou virando o carro-chefe do “Era uma vez um conto de fadas inclusivo”, e
não poderia ser diferente, visto que é a personagem mais querida e conhecida no
universo infantil. Aí, entra uma questão
que considero de profunda importância e que justifica eu ter usado os contos de
fadas para falar sobre diferenças e inclusão: Chapeuzinho é conhecida e querida
por todos... Todos sabem quem ela é... Todos têm carinho por ela... Por isso, a
sua imagem sentadinha numa cadeira de rodas toca em algum lugar, desacomoda,
choca até. Se fosse a “Aninha na cadeirinha de rodas”, creio que não seria o
mesmo impacto, pois a Aninha é anônima, não é nossa irmãzinha, nem nossa filha
ou aluna. Aninha é aquela menina cadeirante que vemos na rua e que desviamos os
olhos, para que ela não note que a estamos olhando. Chapeuzinho não.
Chapeuzinho faz parte de todos nós, da nossa infância, das nossas primeiras
histórias e leituras, de momentos que estão marcados em algum lugar sublime das
nossas almas e existências.
Nos
contos de fadas inclusivos ela é a única cadeirante funcional, digamos assim,
visto que “a Bela Amolecida” não consegue tocar a sua cadeira, e precisa
ser empurrada por sua mãe quando acometida pela maldição que tira as suas
forças. Chapeuzinho da Cadeirinha de Rodas Vermelha é ativa, toca sua cadeira,
cai em buraco, foge do lobo para pedir ajuda... Distante do retrato tristonho e
depressivo que muitas pessoas acreditam ser o perfil de uma criança com
deficiência, considero Chapeuzinho o símbolo mais forte dos contos de fadas
inclusivos e da alegria genuína mediante a uma limitação ou diferença.
por Cristiano Refosco
...Uma história doce e sensível...Parabéns, você tem um dom admirável.
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