sexta-feira, 7 de março de 2014

BASTIDORES DO "ERA UMA VEZ UM CONTO DE FADAS INCLUSIVO"









CHAPEUZINHO DA CADEIRINHA DE RODAS VERMELHA

   Era para ser somente mais uma corrida na Redenção. Porém, quando eu estava dando a última volta no parque, caminhando e curtindo o ritmo da respiração voltar ao normal, uma imagem saltou iluminada na escuridão da minha mente: Chapeuzinho Vermelho sentada numa cadeira de rodas... O que é isso? – pensei com meus cadarços... De onde veio essa ideia  e  o que ela significa?
   Chapeuzinho Vermelho nunca foi o meu conto de fadas favorito. Branca de Neve e Cinderela, sim. Acho que Chapeuzinho nunca me chamou a atenção justamente por não ter nada de encantamento, como bruxas ou fadas. O máximo que tem é um lobo falante.
   Mas, naquela noite de junho de 2010, a ideia da Chapeuzinho na cadeira de rodas perseguiu-me até em casa e eu fui rápido para o Google. Alguém, em algum lugar do mundo já deveria ter colocado Chapeuzinho Vermelho numa cadeira de rodas... Pouco crível que eu tivesse pensado numa coisa que ninguém ainda tivesse concebido.
   A consulta ao Google deu negativa. Contos de Fadas e deficiências ainda não tinham se cruzado nem no Brasil e nem em nenhum lugar do mundo virtual. A partir daí, a história foi-se montando na minha cabeça de forma automática. Chapeuzinho passeando na floresta, tocando a sua cadeira de rodas. Floresta sem acessibilidade e Chapeuzinho caindo num buraco. De imediato, é ajudada pelos seus amigos bichinhos, que tentam em vão tirá-la da encrenca onde se meteu... Até que chega o lobo, forte e “bem intencionado” e empurra a cadeirinha para fora do buraco.
   Concluída a história numa folha de caderno, passei a esboçar ilustrações que endossassem o texto. Nessa época, eu não tinha a menor pretensão de fazer as ilustrações dos livros, visto que não sou ilustrador profissional e que considero não ter nenhum talento para tanto. Só mais tarde é que o Leandro Selister me convenceria a usar os meus traços na coleção.
   Chapeuzinho acabou virando o carro-chefe do “Era uma vez um conto de fadas inclusivo”, e não poderia ser diferente, visto que é a personagem mais querida e conhecida no universo infantil.  Aí, entra uma questão que considero de profunda importância e que justifica eu ter usado os contos de fadas para falar sobre diferenças e inclusão: Chapeuzinho é conhecida e querida por todos... Todos sabem quem ela é... Todos têm carinho por ela... Por isso, a sua imagem sentadinha numa cadeira de rodas toca em algum lugar, desacomoda, choca até. Se fosse a “Aninha na cadeirinha de rodas”, creio que não seria o mesmo impacto, pois a Aninha é anônima, não é nossa irmãzinha, nem nossa filha ou aluna. Aninha é aquela menina cadeirante que vemos na rua e que desviamos os olhos, para que ela não note que a estamos olhando. Chapeuzinho não. Chapeuzinho faz parte de todos nós, da nossa infância, das nossas primeiras histórias e leituras, de momentos que estão marcados em algum lugar sublime das nossas almas e existências.
   Nos contos de fadas inclusivos ela é a única cadeirante funcional, digamos assim, visto que “a Bela Amolecida” não consegue tocar a sua cadeira, e precisa ser empurrada por sua mãe quando acometida pela maldição que tira as suas forças. Chapeuzinho da Cadeirinha de Rodas Vermelha é ativa, toca sua cadeira, cai em buraco, foge do lobo para pedir ajuda... Distante do retrato tristonho e depressivo que muitas pessoas acreditam ser o perfil de uma criança com deficiência, considero Chapeuzinho o símbolo mais forte dos contos de fadas inclusivos e da alegria genuína mediante a uma limitação ou diferença.

por Cristiano Refosco

2 comentários:

  1. ...Uma história doce e sensível...Parabéns, você tem um dom admirável.

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  2. ...Uma história doce e sensível...Parabéns, você tem um dom admirável.

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