Quando saiu a lista de aprovados no vestibular da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), a jovem Márcia Souza Rodovalho, de 21 anos, e
sua família comemoraram muito. A aprovação para o curso de letras é uma
vitória para a estudante que nasceu com hidrocefalia crônica, uma doença
que provoca um acúmulo de líquido no interior da cavidade craniana e,
segundo os médicos, a deixou com apenas 10% de chance de sobreviver. “A
gente comemorou com pizza. Fiquei muito feliz quando vi o resultado. Foi
uma festa para todo mundo”, contou a estudante ao G1.
Moradora de Anápolis, a 55 km de Goiânia,
Márcia nasceu, em setembro de 1992, com a doença e cerca de 80% do
cérebro lesionado. Ela já passou por cinco cirurgias no cérebro e possui
duas válvulas, que drenam o líquido gerado em excesso. Para a mãe, a
funcionária pública Norys Souza Rodovalho, de 55 anos, é motivo de
orgulho saber que a filha superou tantos desafios e conseguiu entrar em
uma universidade. “É uma conquista muito grande para quem não ia sequer
engolir, que teria que se alimentar por sonda. É algo grandioso. Fiquei
muito feliz”, afirma.
Márcia foi aprovada
em 1ª chamada no processo seletivo 2014/1 por meio de cotas para
pessoas com deficiência. Atualmente, a universidade possui 91 estudantes
com algum tipo de problema físico ou mental. Segundo a UEG, o Núcleo de
Acessibilidade Aprender Sem Limites oferece a assistência necessária a
esses alunos.
Há dois anos Márcia resolveu colocar sua história no papel e começou a
escrever uma autobiografia. Foi então que surgiu a ideia de prestar
vestibular para um curso de letras. “As matérias de humanas eu gosto
demais. Sempre gostei de ler e escrever. Até pensei em fazer jornalismo,
mas vi que seria difícil para mim e também o que eu queria mesmo era
letras”, ressalta.
Márcia conta que está ansiosa para o início das aulas, previsto para
abril. Em visita à universidade, ela relata que foi bem recebida. “Temo a
adaptação, porque acho que sou diferente dos colegas da escola, mas
acho que vão ser receptivos. Todos querem me cumprimentar, abraçar,
gosto desse carinho”, afirma.
Segundo a jovem, ela sempre foi incentivada a estudar pela família e
pelo neurocirurgião Paulo César Francisco. Desde pequena, Márcia estudou
em escolas públicas. Simultaneamente, até aos 14 anos, ela também
frequentava a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de
Anápolis.
“No começo foi complicado, até os dez anos, por exemplo, ela não conseguia controlar
as necessidades. Na Apae, recebeu um apoio multidisciplinar e foi se
desenvolvendo. No ensino médio a gente descobriu que ela poderia chegar a
uma universidade”, explica a mãe.
Norys acredita que a filha vai evoluir ainda mais durante a
faculdade. “É uma alegria grande saber que nesses quatro anos ela vai
conviver com gente da idade dela. Ela vai desenvolver, vai se relacionar
e isso é muito importante”, acredita.
Acompanhando Márcia desde que nasceu, o neurocirurgião Paulo César
Francisco se tornou amigo da estudante. Ela afirma que o médico foi
importante para que gostasse de ler. Inclusive, foi ele quem deu para
Márcia o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, que é um
dos preferidos da jovem. “Percebi que ela precisava desenvolver a
leitura e que aceitava as sugestões. Então, passei a incentivá-la”,
disse o neurocirurgião.
Atualmente, Márcia visita cerca de três vezes por ano o especialista.
Paulo César acredita que a jovem não vá precisar passar por nova
cirurgia no cérebro. “Ela está em uma fase estável. Ao olhá-la na rua,
você não vê nada de diferente. Ela se comunica bem e é talentosa. Ela só
possui um pouco de deficiência na parte de cálculos”, explica.
Fonte: Paula Resende, G1
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