Sou fisioterapeuta e trabalho com crianças com deficiências. Há alguns anos venho acompanhando essa polêmica toda que envolve a inclusão e o papel das escolas comuns e especiais. Vejo muita gente boa teorizar sobre inclusão e fincar o pé dizendo que a inclusão é para TODAS AS CRIANÇAS, sem exceção.
Sem dúvida, é uma filosofia linda, igualitária e justa. Uma criança com paralisia cerebral com quadriplegia espástica pode sim ser incluída numa escola comum desde que haja toda uma rede de apoio para auxiliá-la, bem como tecnologia assistiva, condições de acessibilidade e é claro, boa vontade dos professores e demais funcionários (monitores, porteiros, etc).
Porém, como fazer para incluir uma criança com transtorno do espectro autista com fortes estereotipias e cuja única ação é cuspir nas mãos e ficar esfregando uma mão na outra enquanto balança o corpo para frente e para trás, sem interagir com nada e nem com ninguém? Como fazer para incluir numa sala de aula comum uma criança que não consegue ficar sentada e que se mutila, mordendo os próprios dedos até sangrar? Vamos contê-la na cadeira com amarras, enquanto os colegas sem deficiência ficam observando admirados? Qual o sentido ou benefício da inclusão para uma criança assim? Estamos pensando no que é melhor para ela, ou apenas querendo forçá-la a somar-se a uma estatística esquisita que insiste que todas as crianças podem ser incluídas numa escola comum?
Penso que cada caso é um caso... Não podemos subestimar a inclusão, deixando assim com que muitas crianças que têm condições SIM de serem incluídas não o sejam (como por falta de acessibilidade, investimentos em educação e qualificação de educadores, por exemplo). Mas também, não podemos supervalorizar a inclusão, achando que TODOS podem ser incluídos, sem ressalvas. Se por um lado, é preciso que haja uma estrutura externa que auxilie na inclusão, por outro, não podemos fechar os olhos para a estrutura interna da criança que vamos incluir . Inclusão não pode ser ditadura. O equilíbrio e bom senso ainda são os melhores caminhos.
Cristiano Refosco
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