Dia desses, fui procurado por um jornal aqui do Rio Grande do
Sul para rebater as críticas que meus livros tinham recebido de uma contadora
de histórias gaúcha. Pedi ao jornalista que me enviasse as críticas da tal
senhora para que eu soubesse a que se referiam. Sinceramente, não tenho
problemas com críticas e nem com elogios. Acredito que ambos sejam as
manifestações mais genuínas do quanto um trabalho agrada ou não. Porém, quando
a crítica é feita de uma forma grosseira e preconceituosa, como a que foi
realizada pela tal contadora de histórias, acho válido comentar...
A tal contadora de histórias iniciou os seus escritos dizendo
que eu havia feito “bullying” com os personagens dos contos de fadas. Achava um absurdo os nomes dos personagens
estarem vinculados as suas deficiências e disse que eu havia mutilado (e em
outro momento no seu facebook ela trocou mutilado por “aleijado”) os personagens
dos contos de fadas. Para mim, isso é preconceito puro, e rebati dizendo que não
via demérito algum em a Chapeuzinho Vermelho ser cadeirante ou em o Aladim ter
Síndrome de Down.
O fato de eu ter associado o nome dos personagens com as suas
deficiências não se constitui “bullying” ou ofensa, visto que chamar alguém de
cegou ou de surdo não é pejorativo. A convenção realizada pela ONU em 2006
estabeleceu formas corretas de se referir às pessoas com deficiência, mas pelo
visto, a tal contadora de história ignora isso completamente e prefere ficar
presa a sua visão obsoleta, pouco inteligente e preconceituosa.
A coleção “era uma vez um conto de fadas inclusivo” se propõe
a discutir e a provocar a reflexão das diferenças de uma forma direta e objetiva,
sem máscaras. Entendo que tal postura incomode aos mais conservadores. Afinal, nem
todo mundo consegue lidar com isso com naturalidade. Tem gente sem deficiência que acha que sentar numa cadeira de
rodas dá azar, por exemplo... Não me surpreenderei se a tal contadora de histórias pensar
assim. Também, pudera. Alguém que teve a capacidade de dizer que os
contos de fadas já possuem “deficientes” demais (sete anões, sendo que um é “surdo-mudo”,
segundo ela e o próprio patinho feito), não deve ter sua opinião tão levada em
conta. Quanta confusão motivada por desconhecimento! Em primeiro lugar, o anão “mudo”
e não “surdo-mudo” foi criado pela versão da Branca de Neve da Disney. O mesmo não
acontece com a versão dos Irmãos Grimm (que segundo ela, devem estar se
debatendo nas sepulturas em virtude dos meus livros). Ou seja, os contos de
fadas vêm se transformando pelos séculos.
O patinho feio tem deficiência? Não sabia... A menos que ser
feio seja uma deficiência. Realmente, argumentações lamentáveis e desprovidas
de conhecimento e de bom senso.
Que ela tenha achado os livros ruins e ridículos, tudo bem.
Está no seu direito. Assim como ela não
gostou, tem muita gente que adorou e que pede para que eu continue abordando a
temática das diferenças nos próximos projetos. Porém, vir pra cima de mim com
abordagem preconceituosa e até vulgar, como no fato de questionar se os
genitais do João sem braços não tinham sido feridos por ele ter subido o pé de
feijão usando as pernas e a boca, acho de última.
Sim, o João sem braços subiu o pé de feijão usando a boca e
as pernas. Qual o problema? Ele é personagem de um livro infantil, não de um
documentário da Discovery. Onde fica a fantasia e a imaginação? Estamos falando
de literatura infantil, não da realidade.
Pouco provável que ele conseguiria? E o que falar da boneca de pano
Emília do Monteiro Lobato que caminhava, falava e era inteligentíssima? E o que
dizer do Visconde de Sabugosa, um sabugo de milho sábio?
No dia que as pessoas com deficiência (que tanto têm me
agraciado com elogios e comentários positivos e sobre os livros) se sentirem
ofendidas com os contos de fadas inclusivos, aí sim, vou ficar preocupado. Quem
tem uma deficiência quer é ser visto e respeitado, e não escondido.
Lamentável que uma contadora de histórias tenha esses tipos de
preconceitos... Na sua crítica amadora,
ela disse que sentia pena das criancinhas deficientes que iriam ler os meus
livros (como se a coleção tivesse sido feito exclusivamente só para crianças
com deficiência)... Quem tem pena sou
eu, mas das crianças que escutam as histórias que essa mulher conta. Felizmente,
meus livros não serão lidos por essa senhora, uma vez que ela se recusa a
lê-los para quem quer que seja. Melhor mesmo... Seria incoerente uma ferramenta
que vem sendo utilizada no país todo e em Portugal como forma de reflexão sobre
as diferenças, estar ganhando vida através de uma voz tão preconceituosa.
Cristiano Refosco
Olá Cristiano, Sou educadora e fico feliz por ver pessoas como você com um trabalho tão bonito, cheio de vida e trabalhando novos conceitos e NÃO PRECONCEITOS como o da sra dos comentários. Como é bacana saber que a Branca de Neve tambem continua linda se fosse a Negra do Sol pois o que se evidencia nessas histórias é a bondade,solidariedade, e o amor entre as pessoas, sejam elas como forem ,porquê o mundo é de todos e de cada um.Beijão!
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