Conhecida por ser local preferido dos boêmios da cidade, a rua Lima e Silva em Porto Alegre foi palco de um dos mais curiosos fatos da história do Brasil.
Lá por volta de mil oitocentos e pouco, João José de Oliveira Guimarães resolveu instalar uma olaria na sua chácara, que fazia frente para a Estrada da Várzea (que viria mais tarde a ser a Av. João Pessoa).
A chácara do João José ficava bem ali, em frente ao Campo da Redenção, ocupando um espaço que hoje se estenderia da Rua da República até a Sarmento Leite.
Nos fundos da chácara passava uma rua ainda sem nome, que foi apelidada pelos moradores de "Rua da Olaria", depois que o João José instalou ali a sua fábrica de telhas, tijolos e utensílios de cerâmica. Uma ruazinha estreita, que se transformava num imenso lodaçal na época das chuvas.
A maior parte dos moradores da Rua da Olaria eram açorianos ou seus descendentes; gente simples e trabalhadora, que muito prezava a liberdade e o respeito. Mas apesar desses bons sentimentos, alguns deles ainda tinham escravos, ocupados principalmente em serviços domésticos.
Ao longo de mais de meio século, os pacatos e ordeiros moradores se empenharam em tornar cada vez melhor a ruazinha, que eles mesmos tinham batizado de "Rua da Olaria". E assim foi até o ano de 1870, quando a Câmara Municipal resolveu mudar o nome da Rua da Olaria para "Rua General Lima e Silva", em homenagem ao general Luiz Manoel de Lima e Silva, comandante-geral da Guarda Nacional do Município e antigo morador da própria Rua da Olaria, muito estimado pelos vizinhos.
Os moradores da Lima e Silva prezavam muito a liberdade e também o respeito aos seus semelhantes. Eles eram ilhéus açorianos; gente simples e humilde que tinha atravessado o Atlântico em busca de uma vida melhor. E aqui encontraram esta vida melhor. Por isso, não achavam justo que os negros continuassem excluídos das oportunidades que esta boa terra oferecia. Os moradores andavam muito entusiasmados com os rumos que a campanha abolicionista ia tomando.
Movidos pelo entusiasmo, eles tomaram uma decisão inusitada. Estabeleceram um pacto abolicionista, certamente o mais curioso da história do Brasil. Assim, de conversa em conversa, foram formando um consenso. E no dia 7 de agosto de 1884 - quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea - os moradores da Lima e Silva resolveram emancipar todos os escravos da rua. E para marcar esta histórica decisão, fizeram uma grande festa e colocaram ali placas com o seguinte letreiro: "Na Rua Lima e Silva todos são livres!" A partir daquele dia, pelo menos numa das ruas de Porto Alegre a escravidão foi abolida, pela vontade de seus moradores.
FONTE: AS RUAS DE PORTO ALEGRE - ELOY TERRA
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