Comecei a ler "Grande Sertão: Veredas" quando estava no segundo grau (sim, sou do tempo do segundo grau - risos), mas larguei de mão por achar muito difícil. E de fato, talvez fosse mesmo... Nem todo mundo consegue ler e entender um clássico aos 15 anos de idade. Mais tarde, na faculdade, tentei retomar, mas outra vez fui vencido pela falta de persistência. Porém, não desisti... No ano passado, quase vinte anos depois da primeira tentativa, acabei lendo e me deixando envolver pela epopéia sertaneja de João Guimarães Rosa.
Grande Sertão: Veredas gira em torno da história de dois personagens, Riobaldo e Diadorim. Riobaldo, também conhecido como Tatarana ou Urutu-Branco, é o narrador-protagonista do livro. Diadorim é Reinaldo, amigo de infância de Riobaldo e filho de Joca Ramiro, chefe de um bando de jagunços.
Riobaldo, morador às margens do Rio São Francisco, conta sua trajetória de vida com acentos e jeitos sertanejos – uma inusitada invenção de linguagem, a um interlocutor que nunca se pronuncia, a quem ele chama “Senhor” ou “Moço”.A narrativa não segue uma forma linear, mas podemos depreender dela muito da história de Riobaldo. Conta ele que depois da morte da mãe, uma mulher pobre que vive como agregada em uma grande fazenda no interior de minas, passou a morar com seu padrinho. Decepcionado, com esse que era provavelmente seu verdadeiro pai, foge de casa. Ex-jagunço de um bando dos "sertões das gerais" Riobaldo é levado a se juntar ao movimento jagunço ao reencontrar um amigo de infância, Diadorim.
Entretanto, segundo o próprio Riobaldo a série de aventuras que vive com o bando não lhe traz satisfação. A verdade é que com o passar do tempo passou a perceber que ama seu amigo Diadorim, e a impossibilidade de realização desse sentimento o deixa cada vez mais frustrado. O narrador gostaria de partir com seu companheiro, mas Diadorim se recusa a abandonar a jagunçagem até vingar seu pai Joca Ramiro, que foi traído e assassinado por Hermógenes, líder de um grupo rival.
Riobaldo decide vingar a morte de Joca Ramiro, para ele uma questão de honra. Sentindo-se completamente encurralado Riobaldo resolve então fazer um pacto com o demônio, de modo que esse lhe permita matar Hermógenes e sair da situação em que se encontra. Em uma noite escura, o narrador vai, então, a uma encruzilhada. Chama o demônio pelo nome e, não recebe qualquer tipo de resposta. Não é possível afirmar com certeza se houve ou não o pacto. Essa tensão estende-se por toda a narrativa. Fato é que, depois dessa noite, o comportamento de Riobaldo se modifica radicalmente, chegando a se tornar o chefe do bando. Uma das grandes dúvidas de Riobaldo era justamente sobre a existência ou não do "Diabo", e se verdadeira a sua condição de pactuário.
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