domingo, 4 de dezembro de 2016

A PRIMEIRA INFÂNCIA DAS CRIANÇAS CEGAS



      Durante os primeiros quatro meses após o nascimento, o desenvolvimento de um bebê cego é muito semelhante ao de um vidente: exercita os reflexos de que é dotado de forma inata e, posteriormente, constrói seus primeiros hábitos ou esquemas de ação em relação a seu próprio corpo, com exceção aos relativos à visão. Conseguirá, por exemplo, aperfeiçoar o esquema de segurar, coordenar a sucção e a preensão, bem como sorrir, quando ouve a voz de sua mãe.

      É a partir desta idade que começarão a ser produzidas importantes diferenças no desenvolvimento das crianças cegas. Enquanto a partir do quinto mês, aproximadamente, as crianças videntes já são capazes de segurar objetos sob o controle visual, realizando uma constante exploração das características dos mesmos e do lugar que ocupam no espaço, os bebês cegos somente têm consciência da existência dos objetos e do espaço que está fora do alcance de suas mãos, se estes emitem algum tipo de som. Ao problema óbvio de que o som não é uma propriedade de todos os objetos, deve-se acrescentar o fato de que a coordenação audiomanual e, consequentemente, a busca dos objetos mediante o som ocorre com um atraso de cerca de seis meses-em-relação à coordenação visual-manual.

      O desenvolvimento da conduta de busca dos objetos pelos bebês cegos é o seguinte (Fraiberg, 1977): Antes dos sete meses, não há indícios de busca, quando se tira um brinquedo de sua mão, não tenta recuperá-lo. Entre os sete e os oito meses, começa a buscar objetos com os quais têm contato tátil, mas sem se aperceber do lugar em que o perdeu e muito brevemente: quando se faz soar o objeto perdido, não o busca, mas abre e fecha a mão, como se quisesse agarrá-lo. Não há nenhuma resposta diante de objetos sonoros, se a criança não os tocou previamente. Entre os oito e os onze meses, o bebê começa a buscar os objetos em torno do local onde os perdeu; quando derruba um objeto sonoro, é capaz de utilizar o som para buscá-lo, embora ainda não seja capaz de buscar um objeto mediante seu som, se não o tocou        previamente. Por fim, aos 12 meses, é capaz de buscar um objeto guiando-se somente por seu som, o que pressupõe a coordenação definitiva entre o ouvido e a mão.

      Assim, a construção de um mundo de objetos permanentes e de um espaço exterior que os contém, constituirá uma tarefa árdua para a criança cega. Tanto Fraiberg (1977) como Warren (1984), afirmam que as respostas sociais diferenciadas dos bebês sem visão (sorriso ao ouvir a voz da mãe, a partir dos quatro meses, e condutas de medo diante de vozes desconhecidas, a partir dos oito), são indícios de um certo conhecimento da permanência das pessoas.

      No que se refere ao desenvolvimento motor, quando as crianças cegas são bem estimuladas, as aquisições posturais (virar-se, sentar-se ou caminhar com ajuda) desenvolvem-se da mesma maneira e dentro da mesma faixa etária que nos videntes. Exceto na conduta de levantar-se com os braços quando estão de bruços, em que se encontram atrasadas aproximadamente oito meses, provavelmente, pela necessidade de que o bebê cego tem em utilizar as mãos como instrumento, para conhecer o mundo. É importante assinalar que existem atrasos importantes, em todos os aspectos que se referem à movimentação auto-iniciada; - as crianças cegas praticamente não engatinham e começam a andar sem ajuda aos 19 meses. Fraiberg (1977) explica este atraso pelo desconhecimento que as crianças cegas têm da existência dos objetos que não podem alcançar com os braços: somente quando a criança cega écapaz de buscar os objetos sonoros, começará a ter interesse em movimentar-se.

      Por último, é necessário destacar a importância das relações afetivas no desenvolvimento adequado da criança cega. A aceitação da deficiência e o conhecimento, por parte dos pais, das potencialidades do bebê sem visão são indispensáveis para o estabelecimento de boas relações de afeto.

FONTE: http://www.diversidadeemcena.net/artigo03.htm
PERCEPÇÃO, AÇÃO E CONHECIMENTO NAS CRIANÇAS CEGAS

ESPERANZA OCHAITA E ALBERTO ROSA

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