quinta-feira, 5 de março de 2015

A REAL CLEÓPATRA, MUITO ACIMA DA LENDA - PARTE 3


 


O triunfo de Marco Antônio


     Durante dez anos, de 41 a 31 a.C., Marco Antônio não passou de um joguete relativamente dócil. Abandonou a mulher, que era irmã de Otávio, e dessa forma rompeu com aquele homem poderoso e influente, que se tornaria o senhor do mundo romano. Abreviou as estadias na Itália, limitadas a rápidas expedições militares, a fim voltar rapidamente para Alexandria. As conquistas às quais se dedicou foram as que podiam trazer alguma vantagem para o Egito, na Síria, na Cálcica, na Fenícia.

     Houve várias tentativas de reconciliação entre Marco Antônio e Otávio, mas jamais um acordo durável e definitivo, pois assim que Marco Antônio reencontrava Cleópatra tudo voltava ao que era. Ela havia lhe dado três filhos: dois gêmeos, encarados como herdeiros divinos: Alexandre Hélio e Cleópatra Selena, e um terceiro, Ptolomeu Filadelfo. Para agradá-la, após a vitória sobre a Armênia, Marco Antônio comemorou seu triunfo em Alexandria, e não em Roma, onde ela e os filhos se apresentaram de maneira fulgurante, como deuses. Embriagada pelo sucesso, passou a usar vestimentas de Ísis nas cerimônias, o que a identificava com a deusa, sem dúvida para realçar ainda mais seu prestígio junto à população autóctone e para afirmar a natureza divina de sua realeza.




     É significativo que após o triunfo de Marco Antônio seus filhos tivessem recebido títulos reais: Alexandre Hélio, o de grande rei da Armênia; a jovem Cleópatra, o de rainha da Cirenaica; Ptolomeu Filadelfo, o de rei da Síria e da Ásia Menor. O filho mais velho, Ptolomeu César, tornou-se rei dos reis, e a Cleópatra chamavam de rainha dos reis. Já não se tratava mais de dois reinos: o Egito fazia parte do império futuro, do qual era a província central, o núcleo. Habituados a ver seus soberanos deificados, os egípcios não se surpreenderam que Cleópatra ostentasse o título de deusa e de nova Ísis. Dois obstáculos ainda a separavam do império universal: os partas e Otávio. Várias vezes Marco Antônio havia feito a guerra contra os partas, sem contudo lograr um sucesso marcante. Os partas fechavam o caminho para o Extremo Oriente.

     Por seu lado, Otávio era o senhor do mundo romano ocidental; sua política consistia em querer o Egito como província romana. Ele não aceitava a idéia de um império oriental-ocidental. A cada dia tornava-se mais evidente que Roma precisava escolher entre seus dois senhores, um que queria arrastá-la em suas aventuras perigosas, outro que seguia uma política menos brilhante a curto prazo, porém mais segura e vantajosa.


     O afastamento formal de Marco Antônio e Otávio consumou a ruptura. Prevendo que seu adversário, uma vez livre, se casaria com Cleópatra, Otávio começou por apresentá-la como inimiga de Roma, declarando guerra contra o Egito. Isso equivalia a colocar Marco Antônio diante da alternativa de renunciar à rainha para cumprir seu dever de romano, ou entrar em confronto aberto, no caso de permanecer fiel a ela. Sabemos qual foi a escolha de Marco Antônio. Em 2 de setembro de 31 a.C., as duas frotas se encontraram em Áccio, onde Marco Antônio foi vencido.

      Cleópatra não se conformou com a derrota. Como os romanos eram os mestres do Mediterrâneo, ela concebeu o projeto fantástico de criar um império no Extremo Oriente, naquelas terras da Índia que Alexandre tinha conquistado. Decidiu, então, transportar o restante de sua frota de Alexandria para o mar Vermelho, seguindo o canal, ou mesmo através do deserto. Os cruzados fizeram mais tarde uma tentativa semelhante, com sucesso, mas Cleópatra fracassou. Teria sido mais sábio abandonar Alexandria, refugiar-se no Alto Egito, associar-se aos etíopes, lançando-se contra os romanos com uma tática de guerrilha, que teria podido ser longa e favorável a ela. Essa combinação era bastante razoável. Mas desagradava a Marco Antônio e a Cleópatra, que dilapidaram suas forças em tentativas estéreis, até o momento em que Otávio, que havia entrado sem dificuldade no Egito, chegou às portas de Alexandria. O suicídio de Marco Antônio e de Cleópatra pôs fim à guerra.
 
 
     Por perfídia, Otávio assassinou o jovem rei Ptolomeu XIV, filho de César. A dinastia dos Ptolomeus, a última dos reis do Egito, se extinguiu, assim como o país enquanto Estado autônomo e independente. A partir daquele momento, seu destino se confundiu com o do Império Romano, e depois ele se tornou mais e mais dependente das nações estrangeiras que o ocuparam. Triste ocaso para uma civilização que teve em Cleópatra um marco indelével.
 

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