Um homem sem memória surge na noite de uma cidade qualquer. Assim, começa "Noite", do escritor Erico Verissimo. Com um lenço ensanguentado no bolso, uma carteira cheia de dinheiro e um relógio quebrado, o protagonista não tem a menor ideia de quem seja e o que aconteceu com ele nas últimas horas. É então que duas figuras misteriosas - o corcunda e seu mestre - passam a guiá-lo pela escuridão da noite por locais onde a vida noturna impera, como um bordel, uma casa suspeita e um hospital.
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A novela Noite é única na obra de Erico Verissimo. Isenta do caráter épico de O tempo e o vento, não pratica a crônica de costumes dos romances do "ciclo de Porto Alegre", não busca o realismo e não tem o tom de crítica e sátira política de O senhor embaixador e Incidente em Antares.
Noite é uma viagem ao interior da culpa. O personagem central, o "Desconhecido", ou "Homem de gris", perambula pelas ruas de uma cidade submersa no anonimato sem reconhecê-las. Não sabe quem é, nem de onde veio, nem aonde dirigir seus passos.
Atormenta-o uma culpa inenarrável. Sabe que cometeu um crime, mas não sabe como fazer para descobrir qual foi esse crime - e qual é sua identidade.
Usando os cenários conhecidos, Erico compôs o painel social de uma sociedade que se perdeu em seus labirintos, tomada pelo anseio de modernidade, e ao mesmo tempo presa a suas raízes do passado. A novela fala de seres neutralizados pelo anonimato que caracteriza a modernidade: por isso todos os personagens flutuam no espaço intermediário das almas condenadas ao eterno purgatório.
FONTE: COMPANHIA DAS LETRAS
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