O verão se aproxima e, com ele, a grande temporada de férias para os brasileiros. Inclusive para as 45 milhões de pessoas que disseram, em 2010, ao IBGE, que possuem algum tipo de deficiência. Anualmente, a quantidade de pessoas com deficiência que faz turismo cresce, assim como aumenta o nível de exigência quanto à acessibilidade e à qualidade dos serviços prestados pelos locais visitados.
O Brasil ainda deve muito na questão da infraestrutura dedicada a este público, mas algumas iniciativas têm procurado reverter e indicar o (longo) caminho que deve ser seguido. No Brasil, um dos exemplos mais representativos de acessibilidade é a cidade de Socorro, no interior paulista. De 2006 a 2008, o projeto “Socorro Acessível”, aplicou, no município, R$ 1,73 milhão em obras de infraestrutura turística, cursos de qualificação profissional para o atendimento a turistas com deficiências físicas e/ou motoras, além de promover adaptações em passeios, equipamentos e edificações públicas, de acordo com a norma brasileira de acessibilidade nº 9050/2004 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
O projeto Socorro Acessível, iniciado em 2006, é uma parceria entre o Ministério do Turismo, a prefeitura local, a Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), a Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) e o Instituto Casa Brasil de Cultura (ICBC).
Hoje, a cidade pode ser considerada modelo no desenvolvimento do turismo acessível, e serve de exemplo a inúmeras cidades brasileiras e também a outros países. “Diversas cidades, mais de 50, já vieram conhecer o nosso projeto. Já nos visitaram, também, empresários de outros países, como Chile, Costa Rica, Austrália e Estados Unidos. Além disso, em 2011, representantes da Secretaria Especial da Copa 2014 e Rio 2016 fizeram uma visita para conhecer o que temos de acessibilidade nos meios de hospedagem, restaurantes e atrativos turísticos”, explica Carlos Tavares, diretor do Departamento de Turismo e Cultura da Prefeitura de Socorro. Outro ponto importante é que o município também foi convidado para dar uma palestra sobre atividades de aventura adaptadas durante o Congresso Internacional de Acessibilidade, que aconteceu entre os dias 01 e 02 de março de 2011, em Moçambique, na África.
Segundo o diretor, a primeira fase do projeto já foi implantada, e a cidade está começando a entrar na segunda. Até o momento, Socorro já recebeu adaptação em logradouros públicos, hotéis, restaurantes, bares, lanchonetes, lojas e parques e, agora, quer ampliar esta rede. “A próxima etapa é adaptar o museu, construir lombafaixas na cidade, instalar elevador no mirante do Cristo e implantar sinalização de informação para deficientes visuais na rua principal da cidade”, conta Carlos Tavares.
Outras iniciativas
Outras iniciativas também se espalham pelo país, como é o caso do Hotel Villa BellaSite externo., em Gramado (RS). Desde quando foi construído, em 1989, a ideia era atender a todos os públicos. Para isso, ele foi planejado para ter elevadores e rampas de acesso a todos os setores, e já contava com dois apartamentos adaptados para pessoas com deficiência. “Hoje, 10% de nossos quartos são adaptados e temos acessibilidade total em todas as áreas sociais, incluindo cadeira de elevação na piscina. Possuímos, também, diversos equipamentos que são necessários para tornar a hospedagem mais acessível, como cadeiras de rodas extras, cadeira de banho, Koller (telefone para deficientes auditivos), cardápios em Braille, etc.”, explica Marciano Ramos, recepcionista do Hotel Villa Bella.
No entanto, ter a sua arquitetura favorável e possuir equipamentos não torna um local totalmente acessível. Marciano ressalta que os colaboradores do hotel são capacitados para receber e ajudar as pessoas com deficiência no que for necessário, como por exemplo, auxiliar um cadeirante a sair de uma cadeira, facilitar o descolamento de deficientes visuais e utilizar Libras. “Com isso, recebemos o Certificado de Total Acessibilidade do Instituto Pestalozzi”, acrescenta.
Ecoturismo e Turismo de Aventura
Esse é um nicho do mercado de turismo que também está crescendo. Interesse que cresce também entre as pessoas com deficiência. No entanto, para esse público, além de turismo e lazer, essa modalidade representa muito mais que isso. Pode significar uma experiência transformadora na vida dessas pessoas no sentido de aumentar a satisfação, possibilitar aumento da autoestima e, principalmente, trazer o sentimento de superação.
O Hotel Fazenda Parque dos Sonhos, localizado em Socorro (SP), é um dos pioneiros em acessibilidade. Além de ter suas instalações adaptadas para as necessidades das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, possui diversas atividades aventureiras adaptadas a esse público. Por exemplo, tirolesa, boia-cross, rapel, caminhada, canoagem, cavalgada, trilha ecológica e rafting podem ser feitos com as devidas adaptações e com segurança.
Segundo o Manual de Boas Práticas de Acessibilidade em Ecoturismo e Turismo de Aventura, elaborado pela ABETA (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura) e Ministério do Turismo, muitas destas atividades não requerem adaptações tecnicamente complexas para atender às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. No entanto, exigem conhecimentos específicos, principalmente quando se tratam de adaptações de equipamentos de segurança, cujo projeto geralmente não havia sido pensado para este público.
Para Jefferson Maia, pedagogo, artista plástico, esportista e especialista em atividades de pesca, mergulho e praia, uma boa iniciativa nessa área começa com entender as principais limitações das pessoas que pretendem participar das atividades – aliás, recomendação que vale para qualquer público. Além disso, recomenda: “O local deve dispor de embarcações condizentes e embarque/desembarque facilitados, as popas devem ser rebaixadas para retorno do mergulho e banheiros acessíveis. Para a prática da pesca e atividades na praia, basicamente, são necessários esteiras de acesso na areia, rampas, locais próximos com banheiros adaptados, condução urbana acessível e estacionamento próximo, além de calçamento adequado do costado de pesca (se for o caso)”.
Para os empresários interessados em tornar suas atividades mais acessíveis, o manual da ABETA recomenda que sejam observados alguns critérios: o primeiro deles é procurar informações com o Ministério do Turismo, que possui orientações sobre quais atividades podem e como podem ser adaptadas. A segunda recomendação é contratar pessoal especializado e de apoio técnico e mercadológico, pois qualquer tipo de amadorismo nesse processo de adaptação pode colocar em risco ou agravar as condições da deficiência que a pessoa já tenha. É fundamental também que toda a infraestrutura do local seja adaptada conforme determina a legislação em vigor.
Cruzeiros
Outra excelente opção para quem procura descansar nas férias é curtir alguns dias em alto mar, nos chamados cruzeiros. Grande parte dos navios já são projetados levando em conta a acessibilidade. Os navios da MSC Cruzeiros são bons exemplos e seguem as disposições do US Americans with Disabilities Act, um decreto estadunidense que contém um conjunto detalhado de normas sobre acessibilidade nas áreas públicas.
Na maioria dos navios da empresa, o piso é plano e, onde não foi possível a adaptação, foram instaladas rampas de acesso. A largura das portas e os corredores foram projetados para atender aos cadeirantes. Ao todo, a frota MSC conta com 174 cabines especiais, que possuem interruptores de luz, cartões-chave, controles de ar condicionado e cofres privativos na devida altura. Nos navios da classe Fantasia, até os cabideiros foram posicionados de forma adequada. Os banheiros são especialmente adaptados e equipados com assentos mais baixos (45 cm de altura), com uma barra de apoio junto ao sanitário e duas no box do chuveiro, um lavatório baixo (85 cm de altura) e, em alguns casos, lavatórios sem coluna. Todos os navios estão equipados com cadeiras de rodas, muletas e bengalas.
Em quase todos os navios, os quadros e placas de avisos dos elevadores, áreas públicas, cabines e corredores estão escritos em Braille. Além disso, também existe sistema de áudio que indica os andares. Para os deficientes auditivos, os navios contam com kits de socorro com aparelhos auditivos. Por meio de luzes e vibrações, esses hóspedes são avisados quando o alarme do relógio e a campainha da porta soam, ou até em casos de alarme de incêndio ou de evacuação. São disponibilizados, também, amplificadores individuais sem fio para serem utilizados em áreas públicas, além de um sistema digital nos teatros e painéis de indução magnética na recepção, balcão de informações e no escritório de excursões terrestres de cada navio.
A MSC Cruzeiros recomenda aos interessados em realizar reservas que comuniquem à empresa a respeito de sua deficiência. Assim, ao embarcarem, a tripulação será informada e uma Equipe de Apoio aos Deficientes será designada para prestar assistência sempre que necessário. O hóspede também poderá solicitar assistência no embarque e desembarque ou para check-in e check-out prioritário.
Fonte:
http://www.deficienteciente.com.br/ e
http://vidamaislivre.com.br/